O Conde de Monte Cristo - Cap. 102: Valentine Pág. 951 / 1080

De facto, era sem dúvida aquela a cor da beberagem que deitara no copo de Valentine e que Valentine bebera, era sem dúvida aquele o veneno, que não podia enganar os olhos do Sr. de Avrigny e que o Sr. de Avrigny observava atentamente; fora sem dúvida um milagre, o que Deus fizera decerto para que ficasse, apesar das precauções do assassino, um vestígio, uma prova, uma denúncia do crime.

Entretanto, enquanto a Sr.ª de Villefort ficava imóvel como a estátua do Terror e Villefort, com a cara escondida nos lençóis do leito mortuário, não via nada do que se passava à sua volta, Avrigny aproximava-se da janela para melhor poder examinar o conteúdo do copo e provar uma gota tirada com aponta do dedo.

- Ah, agora já não se trata de brucina!... - murmurou. Vejamos o que é...

Correu para um dos armários do quarto de Valentine - armário transformado em farmácia -, tirou da sua caixinha de prata um frasco de ácido nítrico e deixou cair algumas gotas na opala do licor, que se transformou imediatamente num meio copo de sangue vermelho

- Ah!... - exclamou Avrigny, com o horror do juiz a quem se revela a verdade, de mistura com a alegria do sábio que descobre a solução de um problema.

A Sr.ª de Villefort girou um instante sobre si mesma; os seus olhos chamejaram e depois tornaram-se mortiços; procurou, cambaleante, a porta com a mão e desapareceu.

Pouco depois, ouviu-se o ruído distante de um corpo que caía no parqué.

Mas ninguém lhe prestou atenção. A enfermeira estava ocupada a olhar a análise química e Villefort continuava aniquilado.

Apenas o Sr. de Avrigny seguira com a vista a Sr.ª de Villefort e notara a sua saída precipitada.

Levantou a tapeçaria do quarto de Valentine e, através do quarto de Édouard, pôde observar os aposentos da Sr.ª de Villefort, que viu caída, imóvel, no parqué.

- Vá socorrer a Sr.ª de Villefort, - disse à enfermeira. - A Sr.ª de Villefort sente-se mal.

- E Mademoiselle Valentine? - balbuciou a mulher.

- Mademoiselle Valentine já não necessita de socorro; Mademoiselle Valentine está morta.

- Morta! Morta! - suspirou Villefort no paroxismo de uma dor tanto mais dilacerante quanto mais nova, desconhecida e inaudita para aquele coração de bronze.

- Morta, diz o senhor?! - gritou terceira voz. - Quem disse que Valentine estava morta? Os dois homens viraram-se e viram à porta Morrel, de pé, pálido, transtornado, terrível.

Eis o que acontecera:

À sua hora habitual, e pela portinha que levava aos aposentos de Noirtier Morrel apresentara-se em casa dos Villeforts.

Contra o costume, encontrou a porta aberta, pelo que não teve de tocar, e entrou.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069