O Conde de Monte Cristo - Cap. 103: Maximilien Pág. 956 / 1080

- Deliro?! - gritou Morrel. - Pois bem, recorro ao testemunho do próprio Sr. de Avrigny. Pergunte-lhe, senhor, se ainda se lembra das palavras que pronunciou no seu jardim, no jardim deste palácio, na própria noite da morte da Sr.ª de Saint-Méran, quando ambos, o senhor e ele, julgando-se sós, conversavam acerca dessa morte trágica, na qual essa fatalidade de que fala e Deus, que acusa injustamente, só podem ser acusados de uma coisa: terem criado o assassino de Valentine!

Villefort e Avrigny entreolharam-se.

- Sim, sim, recordem-se - prosseguiu Morrel. - Porque essas palavras, que julgaram confiadas ao silêncio e à solidão, caíram nos meus ouvidos. Claro que nessa noite, ao ver a culpada complacência do Sr. de Villefort para com os seus, eu devia ter contado tudo às autoridades. Se o tivesse feito, não seria cúmplice, como sou neste momento, da tua morte, Valentine, minha querida Valentine! Mas o cúmplice transformar-se-á em vingador. Esta quarta morte é flagrante e visível aos olhos de todos, e se o teu pai te abandonar, Valentine, serei eu, serei eu, Juro-te, que perseguirei o assassino.

E desta vez, como se a natureza tivesse enfim piedade daquela vigorosa constituição prestes a ser destruída pela sua própria força, as últimas palavras de Morrel morreram-lhe na garganta, o peito desentranhou-se-lhe em soluços, as lágrimas, durante tanto, tempo rebeldes, brotaram-lhe dos olhos, dobrou-se sobre si mesmo e caiu de joelhos, chorando, junto do leito de Valentine.

Foi então a vez de Avrigny.

- Também eu - disse com voz forte -, também eu me junto ao Sr. Morrel para pedir justiça contra o crime; porque o meu coração revolta-se à ideia de que a minha cobarde complacência encorajou o assassino!

- Oh, meu Deus, meu Deus! - murmurou Villefort, aniquilado.

Morrel ergueu a cabeça e leu qualquer coisa nos olhos do velho, nos quais brilhava uma chama sobrenatural.

- Esperem, esperem. O Sr. Noirtier quer falar.

- Sim - confirmou Noirtier, com uma expressão tanto mais terrível quanto é certo todas as faculdades do pobre velho impotente se encontrarem concentradas no seu olhar.

- Sabe quem é o assassino? - perguntou Morrel.

- Sei - respondeu Noirtier.

- E vai ajudar-nos a descobri-lo? - perguntou o jovem, alvoroçado. - Ouçamos! Sr. de Avrigny, ouçamos! Noirtier dirigiu ao pobre Morrel um sorriso melancólico, um daqueles ternos sorrisos dos olhos que tantas vezes tinham tornado Valentine feliz, e fitou-o intensamente. Depois, tendo cravado por assim dizer os olhos do seu interlocutor aos dele, virou os seus para a porta.

- Quer que eu saia, senhor? - perguntou dolorosamente Morrel.

- Quero - respondeu Noirtier.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069