Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 20: XX - O Doente e o doutor Pág. 113 / 174

Mulheres destas de mexericos não me punham lá o pé das escadas acima, a não ser a costureira, de longe a longe. Não sei; o que sei é que descobri que ela vendia os brilhantes duma pulseira que lhe dei, e distribuía o dinheiro.

- Quantia grande?

- Que eu saiba 1.650$000 réis. Não era pelo dinheiro, que isto cá a mim não me fazia mossa; a minha questão era saber a quem deu ela este capital. Isso é que nem Deus nem o diabo foram capazes de lhe tirar do bucho.

Deteve-se Francisco a pensar naquela quantia de dinheiro, confrontando-a com outra que recebera durante o tempo da sua formatura. O homem tinha momentos de cuidar-se alucinado ou adormecido. Às vezes, a ânsia com que perguntava e o alvoroço com que ouvia as respostas, inclinavam-no sobre a cara do enfermo, que tinha razão de se espantar da torva inquietação do doutor.

- Queira dizer-me... - voltou Francisco, e susteve-se embaraçado com a torrente de perguntas que lhe soçobravam o espírito.

- O quê? - perguntou Hermenegildo, que parecia folgar nestas confidências com o seu médico.

- Já me disse que a sua casa ia apenas uma costureira...

- É verdade...

- E essa costureira...

Susteve-se outra vez o interrogador, receando demasiar-se em averiguações que deviam parecer desnecessárias ao marido de Ângela.

- Da costureira não desconfiava eu, nem me importava que ela lá fosse; mas olhe que não deixei de indagar da vida dela.

- E soube alguma coisa?

- Soube que era uma viúva honrada e que vivia com um irmão. Chamava-se ela Joana, e por sinal que não era má fatia! - acrescentou ele, piscando o olho direito e trejeitando um careta de sibarita.

O facultativo calava-se a intervalos grandes. Dir-se-ia que o nojo crescendo, subindo e empolando-se do peito acima, lhe impedia a fala.





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