Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 24: XXIV - A Opinião pública Pág. 138 / 174

A casa destinada ao cirurgião de partido era telhada, e olhava sobre uns almargeais por três janelinhas de portas envidraçadas. A horta supria mais substancialmente a falta de jardim, e em vez de musgos e trepadeiras floridas, verdejavam as couves galegas e trepavam florentes os feijões carrapatos - espetáculo bucólico de que muito se deliciava Vitorina, recordando a casinha rural de seus pais.

Ângela exclamava com as mãos postas:

- Isto é tão lindo! Se haverá uma alma triste neste povoado! Que miserável e escuro daqui se me figura o que deixamos!...

Joana cuidou em alindar a casa com a modestíssima mobília em que o município se mostrara generoso para granjear a estima do facultativo.

Ao outro dia, a esposa do boticário com sua cunhada, esposa do regedor, e as autoridades de Monte Alegre com suas famílias, visitaram o cirurgião, que ali era graduado em doutor.

De tudo isto entreluzia à cismadora Ângela um viver antigo, santa singeleza de costumes e dulcificação de almas que para ali viessem acerbadas do viver das cidades.

Aquele silêncio de terra e céu era-lhe o ambiente lúcido das suas esperanças. Não ousara imaginá-las tão acordes com a sua índole, vendo-se ligada ao esposo querido que refletia a felicidade de todos sobredourando a sua.

Começou o doutor a curar, e a voz pública a pregoar milagres. Achaques inveterados, aleijões, nevralgias, que tinham resistido aos exorcismos, espinhelas caídas e nunca levantadas, todas as castas de enfermidades sem cura encontraram remédio ou alívio.

O assombro, porém, excedeu todo encarecimento quando o doutor chamou um cego mendigo, e depois de operá-lo e tratá-lo em sua casa, o mandou trabalhar com vista no seu antigo ofício de pedreiro.

Rodeavam-no as multidões de parentes e amigos perguntando todos a um tempo se os conhecia.





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