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Capítulo 24: XXIV - A Opinião pública

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Convencidos de que o cego de vinte anos voltara a ver os filhos que deixara no berço, o doutor avultou-lhes como entre milagroso, ali mandado pela Senhora da Saúde, adorada com muita fé na sua igreja.

Alargou-se a área da clínica do facultativo a seis e mais léguas em redor, por caminhos precipitosos à orla de despenhadeiros.

Mas o inverno chegou.

Os pegões do vento outonal abateram quando as neves de novembro começaram a coroar os espinhaços das serras, e a sobrepor as suas camadas endurecidas pelo gear das noites, sobre as veredas de cabras que ligavam uma aldeia a outra. Sem impedimento dos rogos de sua família, Francisco Costa ia sempre que era chamado. E, quando transpunha as raias do concelho, a visitar doentes, em noite tempestuosa, por os mesmos caminhos já famigerados na vida de fr. Bartolomeu dos Mártires, e recebia duzentos e quarenta réis de recompensa, Francisco depunha no regaço da esposa o seu bem suado ou bem tiritado óbolo, e dizia a sorrir:

- É o dinheiro de dois operários: tanto labutou o lavrador para o tirar da terra, como eu para lho arrancar do cantinho da arca. Se eu lhe pedisse mais, o doente preferia a morte.

O que muito supria na sua receita era a arte operatória, exercitada longe, mormente as operações de catarata, que já tinham levado seu nome ao território espanhol.

Então aconteceu, duas vezes, no primeiro ano, Francisco Costa entesourar na caixa econômica de sua mulher uma dúzia de peças, com esta recomendação dita em gracejo:

- Vai guardando o património do nosso primeiro filho.

Ângela estremeceu da felicidade que já lhe estremecia no seio adiantados sinais de maternidade.

- E o nosso filho que será neste mundo? Que destino lhe hás de dar? - perguntou a filha do general Noronha.

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pág. 139 (Capítulo 24)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 139

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174