Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 25: XXV - O Cego Pág. 142 / 174

Há de perdoar-me, fidalgo; mas vossa excelência só deixou de lhe chamar filha depois que ela quis casar com um homem mecânico...

- E se perverteu... - atalhou rancoroso o cego.

- Mentiram-lhe, fidalgo; ela não praticou ação má senão a de querer ser esposa dum pobre.

- Não sabes nada, pedaço de asno. Tenho ali uma carta de minha irmã Beatriz.

- Bem sei, meu senhor.

- Sabes? quem to disse?

- A Sr.ª D. Ângela.

- Quem lha mostrou?

- Viu-a ela, quando escreveu a vossa excelência uma carta sobre a sua escrivaninha. Essa carta diz que os criados da senhora sua irmã, a quem Deus perdoe, tinham arrancado a fidalga dos braços do tal filho do sacristão. Era uma mentira de clamar vingança aos anjos. Sua excelentíssima filha, quando, desesperada, procurara o tal homem, não o encontrou, tinha saído para o Porto.

- Quem to contou?

- Vitorina, que saiu de Gondar com a Sr.ª D. Ângela, quando tinha dois anos; o próprio capelão, e todos os criados da Sr.ª D. Beatriz, que lá está onde as contas são apertadas.

- Por que não disseste isso até hoje?

- Porque vossa excelência se desesperava assim que eu começava a falar na Sr.ª D. Ângela, e depois...

- Depois o que?... Não respondes?!

- Vossa excelência começava a dizer que via a mãe da menina, e a sacudir os braços que me fazia terror.

- Está bom! Está bom! - murmurava guturalmente o velho, procurando com as mãos trémulas a boca do criado.

E recaía na concentrada prostração que durava horas e dias.

Uma vez, o general acordou de sobressalto, por noite fora, chamou João Pedro com aflição, e disse-lhe:

- Quem anda na casa?

- Ninguém, senhor... Serão os ratos que os há nela de tamanho de leitões.

- Não mangues comigo, João!

- Ó fidalgo! Eu mangar com vossa excelência!.





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