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- Aí anda gente... os passos e a voz são de Ângela...
- Deus permitisse que fosse ela... O senhor general estava agora sonhando, e às vezes falava em sua filha.
- Falava?
- Sim, meu senhor.
- Então era sonho...
- E, se ela lhe aparecesse... se vossa excelência a visse de repente...
- Não vês que estou cego... Cego, meu Deus!
- Pois sim; mas se vossa excelência lhe ouvisse a voz, e lhe deixasse beijar as mãos...
- Tu quando a viste?
- Eu, senhor? Vi-a há oito anos, quando vossa excelência estava em França, e me mandou entregar-lhe o cofre dos enfeites.
- E estava aonde?
- Perto da vila de Barrosas, e casou no dia em que lá cheguei... Eu já contei a vossa excelência isto...
- Mas ela escreveu-me há coisas de ano e meio. Onde estava então?
- No Porto.
- E nunca mais soubeste dela nada?
- Não, fidalgo... Isto é... - tartamudeou o mordomo - quero dizer...
- Soubeste, ou não?
- Ela a mim nunca me escreveu; mas, cá em Ponte, ouvi dizer que o marido a deixara e fora para o Brasil.
- Por quê?
- Não sei... - responde pronto João Pedro, como quem esperava a pergunta, e tencionava esconder os boatos desairosos para a filha de seu amo.
- Não sabes? Alguma nova desonra!... Quem te contou isso? Quero saber...
- Não me recordo a quem o ouvi... Parece-me que foi um padre que já morreu.
- E que é feito dela? Sabes?
- Não sei, meu senhor.
- Quero que saibas... Vai saber isso ao Porto... Indaga por lá.
- E quem há de ficar à beira de vossa excelência?
- Um criado qualquer. Vai já hoje, assim que amanhecer... Sonhei que a via... Ver, meu Deus, ver!... Sonhei que a via... E o meu coração estava alegre... Procura-ma, procura-ma, João!
Seis dias depois, o mordomo voltava triste do Porto. As inculcas