Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 26: XXVI - A Providência Pág. 146 / 174

comodidades; porque, se vossa excelência quisesse ser operado em Ponte, seria isso mais difícil ao doutor, que tem uma clínica, e não poderia assistir, como convém, ao curativo, e convalescença da operação.

Reanimou-se o cego. A esperança galvanizou-lhe as articulações emperradas pela imobilidade. Apertou nos braços com reconhecimento a dedicação do parente, e pactuou sair no dia seguinte.

Folgando de palestrar, sucederam variados aos assuntos. Falou da emigração, das esperanças daqueles dias, das batalhas do Porto, da bravura dos paisanos, das proezas do libertador e, terminou dizendo com um remoqueador sorriso de elevada crítica:

- Sabe vossa excelência o que venceu a guerra? Não foi a ideia da pátria, nem o ódio do despotismo, nem o amor à liberdade. Foi D. Pedro ter fechado o Brasil no caso de lhe cá espedaçarem o estandarte aventureiro, e foi cada homem do Mindelo defender a vida própria da forca ou do desterro, e foi cada cidadão da cidade eterna ser obrigado a defender a esposa e os filhos. Uma vez perguntava D. Pedro, no Porto, a um velho, que saía armado e trôpego, a um toque de rebate: “Também tu, meu velho?” e o velho respondeu: “Também eu, meu diabo! Por causa de Vossa Majestade estou eu aqui a defender os meus netos”. Esta resposta é a história do triunfo prodigioso de D. Pedro.

Estendeu o conde a sua diatribe política, desembestando, contra generais e estadistas, acerados dardos, dignos do artigo de fundo da imprensa política portuguesa. Todavia, um ponto lhe esqueceu importantíssimo: e era explicar a sua condescendência no aceitar e pagar um título lembrado a el-rei pelo então ministro da Guerra, camarada do bravo Simão de Noronha. Convinha-lhe exemplificar o desprezo das mercês em conformidade com o seu desdém da liberdade, que, boa ou má, ele ajudara grandemente a implantar.





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