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Capítulo 26: XXVI - A Providência

Página 147
Perdoe-se-lhe, porém, o mau humor cívico em desconto das amarguras da velhice, e da roaz concentração em que a cegueira o pusera, insulado de toda a sociabilidade.

- É pena - lastimou o cavalheiro - que vossa excelência, em anos tão carecidos dos afagos de família, se veja sozinho, e forçado a escutar-se incessantemente em suas tristezas...

- Efeitos da péssima mocidade - disse laconicamente o velho.

- E não lhe restam parentes estimados que substituíssem a falta de filhos?...

- Não, senhor.

A concisão das respostas reduziu a silêncio o interlocutor.

- Quer então vossa excelência que partamos amanhã para as Boticas?

- Se eu não tive piorado desta frouxidão que dificilmente me deixa ir duma cadeira para outra, muito me obsequiará vossa excelência acompanhando-me. Se o doutor entender que é praticável a operação, eu mandarei ir o meu escudeiro e mais criados.

- Vossa excelência tem os meus criados e a mim com eles.

- Obrigadíssimo à sua bondade: deixe-me abraçá-lo, que há muitos anos não senti alguém nos meus braços. Parece-me que ainda é novo...

- Não, senhor. Tenho quarenta anos.

- Eu já era decrépito nessa idade. Aos vinte e seis anos embranqueceram-me os cabelos, e aos trinta caíram-me. Quando voltei a Portugal, depois dum exílio de treze anos, os meus criados perguntaram-me quem eu procurava.

- E já então não encontrou pessoa alguma de família?

- Que eu prezasse... não. Tinha irmãs, que nunca estimei, nem me estimaram. Tinha uma filha...

- Morreu?

- Morreu.

O conde de Gondar apertou as mãos do homem, que prezava, porque sabia que lhe via as lágrimas; e murmurou:

- Vê? Estes olhos não tem luz, tem o sangue do coração. Olhe que eu sou o mais castigado e desgraçado homem que nasceu debaixo do Sol.

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pág. 147 (Capítulo 26)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 147

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174