Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 26: XXVI - A Providência Pág. 148 / 174

A sepultura repele-me há cinquenta anos, porque eu morri então. Morri então, senhor...

E estreitava convulsamente ao seio as duas mãos do cavalheiro.

- Está bom... - prosseguiu ele com satisfação. - Estou melhor... desafoguei... Sinto-me tão bem!...

Quem pudera chorar uma hora em cada doze de tonturas...

- Já vê vossa excelência quanto lhe seria consoladora uma família... Foi fatal o perdimento de sua filha.

- E vossa excelência sabe que a perdi?

- Sei por ter tido a honra de o ouvir há pouco dizer ao senhor conde..

- Ah! Fui eu?...

- Sim; disse-me vossa excelência que sua filha tinha morrido.

- Viva ou morta... morreu. Nunca ouviu falar dela?

- Não, senhor.

- Esqueceram-na todos! Ninguém aqui em Ponte... nem os Abreus lhe falaram dela?

- Não, senhor conde.

- É porque ela empobreceu... é porque eu a repeli... Desprezaram-na todos, e não curaram de saber se eu tinha razão, ou se ela tinha infâmias para ser desprezada... E por isso... morreu!

O flaviense não formava da intelectualidade do conde um juízo satisfatório para uma certidão de sanidade. Não acabava de entender se a filha do conde era viva ou morta; nem ousava protrair indagações irritantes da torvação mental do velho.

Calou-se, aproveitou o ensejo oportuno de despedir-se, e foi indagar o mistério de tal filha.

Os informadores disseram-lhe concordemente que em verdade o conde tivera na sua mocidade uma filha natural de uma célebre fidalga do seu tempo; mas que essa menina se havia perdido em libertinagens como sua mãe.

O cavalheiro entendeu então o que era morrer, e condoeu-se profundamente do pai da perdida.





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