João Pedro foi para casa dum lavrador da freguesia, levado pelo doutor sob qualquer pretexto, e ai esperou as ordens, contentíssimo de ter parte no feliz desfecho que prometia o enredo da reconciliação entre a fidalga e seu pai.
Enquanto corria o tempo necessário a dissimular a ida do mordomo e vinda da resposta, examinou Francisco os olhos do conde, e exultou. A cicatrização era excelente. A fotofobia era quase nula. O velho já via através de lentes escuras graduadas as miudezas dos objetos, bem que a insistência lhe desse vágados e ligeiras dores. Ainda assim, Francisco ordenou que continuasse a escuridade no quarto.
Entretanto, lamentava o conde que D. Maria estivesse na cama sofrendo uma impertinente enxaqueca, ao tempo que ele tirara o apósito; e que as trevas do quarto fossem tantas que ele não podia destacar-lhe as feições, porque via tudo a vulto.
Passados os dias convenientes à simulada indagação, Costa, fingindo alvoroço, disse ao conde:
- Alvíssaras! - Aqui está carta de João Pedro para vossa excelência.
- Alvíssaras! - disse o conde. - Pois quem sabe o que aí vem?
- Se ele não encontrasse boas novas, é natural que voltasse logo, ou escrevesse mais tarde.
- Leia, leia então, meu amigo.
A carta dizia que a Sr.ª D. Ângela, no dia imediato, saía para as Boticas, com seu marido e filho. Acrescentava que a fidalga vivia muito pobre, e casada com um plebeu.
- Ela será rica, e ele nobre... - murmurou o senhor do paço de Gondar.
- Todavia - observou o filho do sacristão - mais grato seria a vossa excelência que ela houvesse casado com homem de geração histórica.
- Todas as gerações são históricas, Sr. Costa - acudiu o conde. - A geração da plebe francesa da minha mocidade é a mais histórica de quantas houve.