Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 6: VI - Amigos do seu amigo Pág. 28 / 174

senhora deve confessar o que fez ao dinheiro, quem lho apanhou, que qualidade de pessoa era; porque as mulheres não podem dispor assim dos capitais dos seus homens, aliás ninguém pode contar com o que é seu; e de mais a mais dar um conto seiscentos e cinquenta mil réis sem dizer a quem, era caso para desconfiar de certas coisas muito feias, etc., etc., etc. Enfim, o amigo Atanásio batalhou com ela, apertou-a por todos os lados, mas respondeu você, compadre? Não respondeu? Nem ela! Vai depois, o amigo Joaquim falou também com toda a prudência e cortesia, discorrendo a respeito da honra dum homem, e também não fez nada. Enfim, como ela estivesse a ouvir sem responder uma nem duas, eu tomei a palavra, e disse que o senhor seu marido lhe ordenava que se recolhesse sem perda de tempo a um convento. Agora é que são elas! - prosseguiu Pantaleão Mendes batendo nas próprias pernas duas palmadas que soaram como se as ponderosas mãos batessem nas pernas dum Sileno de pedra. - Quem cuida você, compadre, que ela respondeu?! Que...

- Que não ia! - atalhou o brasileiro, careteando com os olhos e boca e nariz uma temerosa carranca de cólera.

- Isso mesmo! - conclamaram os três.

- “Não vou” - acrescentou o relator - “não vou para convento” disse ela. E disse mais: - “Meu marido tomou conta das jóias que eram de minha mãe; que fique lá com o dinheiro dos brilhantes, e que me mande o resto; se quiser mandar; se não quiser, que fique com tudo. Convento é que não”. Há de ir! Gritei eu; há de ir, que seu marido

é quem governa na senhora. - “Não vou” teimou ela. Então que quer a senhora fazer, se seu homem a deixar, sem que comer, nem que beber, nem casa? - “Trabalharei para viver; e, se morrer de fome, Deus me dará o céu, porque morrerei honrada e inocente”.





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