- Patranha! E que grande patranha!
- A sua mulher reza?
- Nem se sabe benzer, acho eu.
- Faz ela muito bem; mas vai à missa dos Congregados ao meio-dia, que eu já a tenho visto entrar na igreja.
- Vai por dar um passeio, e mais os pequenos, percebe você? Ora diga-me cá, compadre - continuou o previsto Atanásio, sem dar lugar a que o hóspede averiguasse coisas tendentes a provar que a mulher de seu amigo conciliava a pureza dos costumes com a ignorância do sinal da cruz - eu ouvi dizer, e sei com certeza, que você tinha seus amores fora de casa. Nunca lhe perguntei nada a tal respeito por se não oferecer ocasião; mas eu sei que você tinha em S. Roque da Lameira uma moçoila da sua terra, chamada Rosa; e outra na sua Quinta da Cruz da Regateira, chamada Benedita.
- Não lhe mentira. Confesso o meu pecado; mas dou-lhe a razão. Minha mulher não me tinha amor de casta nenhuma. Tratava-me como se trata um tio. Entrava e saía a semana sem me dar um beijo, nem se lhe importava que eu comesse ou não comesse. Você sabe que eu sou atreito a moléstia de fígado, e que só me sinto aliviado com
papas de linhaça; pois ela mandava-me pôr as cataplasmas pelo galego! Diga-me se uma boa esposa consente que alguém ponha as cataplasmas em seu marido!... Um homem, quando anda pelos cinquenta, precisa ser afagado, não é verdade?.