.. É p’ra isso que eu me casei com uma rapariga pobre, apesar de ser fidalga, formando tenção de a deixar rica. Imagine você que ela nunca me fez um carinho. À minha beira estava sempre triste com a noite. Nunca se ria de chalaça que eu lhe dissesse; e depois que eu me deitava ficava ela duas horas a costurar, mais duas horas a rezar, e via-se mesmo que me aborrecia. Aqui tem você a razão por que eu trouxe da minha terra duas raparigas boas e bonitas que me amam com todo o afeto e choram quando se passam três dias sem eu lá ir.
- E sua mulher desconfiava?
- Sabia tudo, por que um brejeiro dum caixeiro, que eu pus fora, lho mandou contar numa carta.
- E ela que fez?
- Deu-me a carta, e disse que não tornasse a fazer os meus caixeiros sabedores dos meus desvarios.
- E não se zangou?
- Nada.
- Ora essa!...
- Pois se ela não me tinha amor nenhum!... Você não entendeu ainda?
- Agora percebo... Mais uma razão para termos a certeza de que ela fazia outro tanto.
- Pois isso é claro como a luz que nos está aluminando... Chegue-me daí a genebra, que estou com azia.
O brasileiro embocou a botija, gorgolejou três bons tragos, e prosseguiu:
- Se ela me tivesse amor, fazia o diabo em casa, logo que soubesse das minhas asneiras, não é verdade?
Pois nunca me jogou a mais pequena chalaça a tal respeito!...
- Então não há que duvidar: - evidenciou Atanásio Mendes - sua mulher tinha com quem se distrair; e agora percebo eu como é que ela está inocente. Quer dizer na sua que está tão inocente como você, seu maganão!
Atanásio riu-se do chiste do próprio remoque.
- Pois sim - refletiu judiciosamente Fialho - mas você bem sabe que nós, os homens, não somos mulheres. Elas tem outra casta de obrigações. Se a mulher for igual