- Seu irmão? - perguntou Ângela com veemência, como se a salteasse o pensamento dele ter saído para longe.
- Está já no Porto, minha senhora - respondeu José Maria, visto que a mulher não respondia.
- Foi para o Porto?! - murmurou a filha de D. Maria d’Antas empalidecendo e esbugalhando os seus olhos negros.
- Foi, minha senhora; pedi-lhe eu muito que fosse - tartamudeava Joana - cuidando que, saindo ele daqui, se acabavam as inquietações de vossa excelência e de sua tia.
Ângela pendeu a face para o seio, e quedou-se largo espaço confusa, sem atender às sensatas observações de José Maria.
- Que ingratidão! - murmurou ela; e, levantado-se de saldo, disse: - Bem... não vim aqui fazer nada; irei para o convento, irei para onde quiserem. Meus amigos, abram-me a porta, que eu vou outra vez para casa; mas digam ao senhor Costa que eu vim procurá-lo numa hora de muito sofrimento, que o não encontrei, e que saí desenganada...
- Ó minha senhora, vossa excelência é injusta com o meu pobre irmão... - exclamou Joana, com as mãos postas, e inclinada quase em joelhos.
Neste em meio, soaram na porta redobrados golpes. Estremeceram todos.
José Maria foi à janela, e as duas senhoras seguiram-no.
- Está cá a senhora D. Ângela? - perguntou uma voz de mulher esbofada.
- É Vitorina... - disse a fidalga. - Estou, Vitorina, estou aqui... Que é?
- Ó minha senhora - disse a criada ansiadíssima. - Deram fé que vossa excelência fugiu. Sua tia levantou-se a chamar os criados. Não tardam aí... Olhe que a levam à força, e sua tia disse ao João Alho que se pilhasse às mãos o Sr. Francisco, o fizesse em postas.
Volte depressa, que, se eles cá chegam a vir, há desgraça de maior.