- Hurrah! gritaram todos, e o eco deste grito estendeu-se pela floresta.
Carmen tinha-se aproximado do tigre morto, acariciava-lhe a pele aveludada, tocava-lhe com as pontas dos dedos no sangue que escorria.
- Hurrah! hurrah! continuavam gritando os caçadores.
Carmen, então, arremessando-se aos meus braços, beijou-me na testa com entusiasmo, dizendo alto:
- Salvou-me a vida! Devo-lhe a vida!…
E mais baixo, murmurou-me ao ouvido:
- Amo-te.
A tarde caía. Sentíamos os braços fracos, e grande sede. Começámos a dirigir-nos para Calcutá. Descanámos numa plantação de índigo. E ao começar da noite, com archotes acesos e cantando, partimos alegremente para a cidade, pela floresta, num caminho conhecido e seguro. As luzes davam à ramagem atitudes fantásticas; pássaros acordando esvoaçavam; e sentia-se o fugir dos chacais. Era como a volta de uma caçada barbara, das velhas legendas da India. Carmen tinha aberto as cortinas do palanquim. Eu montava, ao lado dela, o cavalo do malaio morto. Ela inclinou-se para mim e com a voz abafada:
- Juro-te, disse-me, que te amo, como só no nosso país se ama. Juro-te que em todas as circunstâncias, sempre darei a minha vida pela tua, quererei os teus perigos, serei a tua criatura, e só te peço uma coisa.
- O quê?
- É que de vez em quando, quando não tiveres melhor que fazer, te lembres um pouco de mim.
O momento, o sítio, os perfumes acres, as fantásticas sombras da floresta, a luz dos archotes, a beleza maravilhosa e fatal de Carmen,