Um dia falava-se da India. Ritmel dizia a transformação fecunda que a Inglaterra lhe tinha feito. Uma grande risada interrompeu-o. Era Perni.
- Ri-se? disse Ritmel, levemente pálido.
- Rio-me? Estalo de riso, tenho apoplexias de riso. Que transformação fecunda fez a Inglaterra à India? A transformação da poesia, da imaginação,
do sol, numa coisa chata, trivial e cheia de carvão. Eu estive na India, meus senhores. Sabem o que fizeram os transformadores ingleses? A tradução da India, poema misterioso, na prosa mercantil do Morning Post. Na sombra dos pagodes põem fardos de pimenta; tratam a grande raça índia, mãe do ideal, como cães irlandeses; fazem navegar no divino Ganges paquetes a três xelins por cabeça; fazem beber às baiaderas, pale ale, e ensinam-lhes o jogo do críquete; abrem squares a gaz na floresta sagrada; e, sobre tudo isto, meus senhores, destronam antigos reis, misteriosos, e quase de marfim, e substituem-nos por sujeitos de suíças, crivados de dívidas, rubros de porter, que quando não vão ser forçados em Botani-Bai, vão ser governadores da India! E quem faz tudo isto? Uma ilha feita metade de gelo e metade de rosbeef, habitada por piratas de colarinhos altos, odres de cerveja!
Catain Ritmel ergueu-se risonho, aproximou-se de mim, e disse:
- Peço-lhe que no fim do jantar pergunte àquele engraçado doido o seu lugar, a sua hora e as suas armas.
E foi sentar-se serenamente. Eu, à sobremesa, afastei-me com Perni, e transmiti-lhe as palavras do meu amigo.
Perni riu, disse que estimava os ingleses, que apreciava os seus