O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 40: CAPÍTULO VII Pág. 217 / 245

CAPÍTULO VII

Fui logo para casa, chamei precipitadamente Bety.

- Bety, disse eu fechando a porta do quarto, Bety, depressa, quero dizer-te uma coisa. Não me digas que não…

- Santo Deus! Sossegue, descanse, minha querida menina! Jesus, como vem pálida!

- Bety, é uma coisa irreparável… devia ser. Foi pensada a sangue frio. Vês como estou tranquila, sem exaltação, sem nervos. É uma resolução digna. Bety, não me digas que não!…

- Mas, minha rica senhora…

- Não se podia voltar atrás. Para além do mais, sou feliz assim, tão feliz, tão feliz!

- Bem feliz, ao menos?

- Doidamente. E se não fosse assim, morria…

- Mas então…

- Fugimos amanhã.

Ela estremeceu toda, deitou-me um grande olhar em que apareciam lágrimas, e sufocada, com as mãos juntas:

- E eu?

Atirei-me aos seus braços:

- Pois havias de ficar, Bety? Tu vens connosco, Bety.

E correndo pelo quarto, abria os guarda-vestidos, tirando roupas, batendo as palmas, e gritando:

- Arranja, Bety, arranja tudo. Depressa! Arranja, arranja!

Mandei pôr a caleche. Eram quatro horas. Desci o Chiado. Ia alegre, triunfava: a minha vida aparecia-me, larga, cheia, esplêndida, coberta de luz. Entrei nas modistas, olhei, escolhi, comprei, com impaciências de noiva, e recatos de conspirador. Apertei a mão a algumas amigas.

- Partes? perguntavam-me.

- Para França.

- Com a guerra?

- Não há guerra. E havendo, não é interessante ver matar prussianos?

Á porta do Sasseti, encontrei Carlos Fradique.

- Sabe que parto amanhã? disse-lhe eu.

- Sabe que parto hoje? respondeu-me. Ia lá, apertar-lhe a mão.

- Mas é inesperado isso! vai para França? Para quê?

- Ver os campos de batalha ao luar, ou aos archotes. Deve haver atitudes de mortos muito curiosas.





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