O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 6: CAPÍTULO V Pág. 25 / 245

CAPÍTULO V

Hoje, mais sossegado e sereno, posso contar-lhe com precisão e realidade, reconstruindo-o do modo mais nítido, nos diálogos e nos olhares, o que se seguiu à entrada imprevista daquela pessoa no quarto onde estava o morto.

O homem tinha ficado estendido no chão, sem sentidos: molhámos-lhe a testa, demos-lhe a respirar vinagre de toilete. Voltou a si, e, ainda trêmulo e pálido, o seu primeiro movimento instintivo foi correr para a janela!

O mascarado, porém, tinha-o envolvido fortemente com os braços, e arremessou-o com violência para cima de uma cadeira, ao fundo do quarto. Tirou do seio um punhal, e disse-lhe com voz fria e firme:

- Se faz um gesto, se dá um grito, se tem um movimento, varo- lhe o coração!

- Vá, vá, disse eu, breve! responda… Que quer? Que veio fazer aqui?

Ele não respondia, e com a cabeça tomada entre as mãos, repetia maquinalmente:

- Está perdido tudo! Está tudo perdido!

- Fale, disse-lhe o mascarado, tomando-lhe rudemente o braço, que veio fazer aqui? Que é isto? como soube?…

A sua agitação era extrema: luziam-lhe os olhos entre o cetim negro da mascara.

- Que veio fazer aqui? repetiu agarrando-o pelos ombros e sacudindo-o como um vime.

- Escute… disse o homem convulsivamente. Vinha saber… disseram-me… Não sei. Parece que já cá estava a polícia… queria… saber a verdade, indagar quem o tinha assassinado… vinha tomar informações…

- Sabe tudo! disse o mascarado, aterrado, deixando pender os braços.

Eu estava surpreendido; aquele homem conhecia o crime, sabia que havia ali um cadáver! Só ele o sabia, porque deviam ser decerto absolutamente ignorados aqueles sucessos lúgubres. Por consequência quem sabia onde estava o cadáver, quem tinha uma chave da casa, quem vinha alta noite ao lugar do assassinato, quem tinha desmaiado vendo-se surpreendido, estava positivamente envolvido no crime…

- Quem lhe deu a chave? perguntou o mascarado.





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