O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 6: CAPÍTULO V Pág. 27 / 245

Ia enfim saber onde estava!

Mas o mascarado com um movimento impetuoso pôs-lhe a mão aberta sobre a boca, comprimindo-lhe as faces, e com uma voz surda e terrível:

- Se diz onde estamos, mato-o.

O homem fitou-nos: compreendeu evidentemente que eu também estava ali, sem saber onde, por um mistério, que os motivos da nossa presença eram também suspeitos, e que por consequência não eramos empregados da polícia. Esteve um momento calado e acrescentou:

- Meus senhores, esse homem fui eu que o matei, que querem mais? Que fazem aqui?

- Está preso, gritou o mascarado. Vá chamar os outros, doutor. É o assassino.

- Esperem, esperem, gritou ele, não compreendo! Quem são os senhores?

Supus que eram da polícia… São talvez… disfarçam para me surpreender! Eu não conheço aquele homem, nunca o vi. Deixem-me sair…

Que desgraça!

- Este miserável há de falar, ele tem o segredo! bradava o mascarado.

Eu tinha-me sentado ao pé do homem. Queria tentar a doçura, a astucia. Ele tinha serenado, falava com inteligência e com facilidade. Disse-me que se chamava A. M. C., que era estudante de medicina e natural de Viseu. O mascarado escutava-nos, silencioso e atento. Eu falando baixo com o homem, tinha-lhe pousado a mão sobre o joelho. Ele pedia-me que o salvasse, chamava-me seu amigo. Parecia-me um rapaz exaltado, dominado pela imaginação. Era fácil surpreender a verdade dos seus atos. Com um modo íntimo, confidencial, fiz-lhe perguntas aparentemente sinceras e simples, mas cheias de traição e de análise. Ele, com uma boa fé inexperiente, a todo o momento se descobria, se denunciava.

- Ora, disse-lhe eu, uma coisa me admira em tudo isto.

- Qual?

- É que não tivesse deixado sinais o arsénico…

- Foi ópio, interrompeu ele, com uma simplicidade infantil.





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