O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 9: SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I Pág. 46 / 245

Não sei porque se declarou autor do assassinato, negando-o depois. Ignoro a íntima verdade destas contradições.

Mas o que sei, aquilo de que posso já dar testemunho, e não só eu, mas amigos, mas numerosas pessoas, é que na noite que se mostra ter sido a do assassinato ele esteve, até quase de madrugada, na minha casa, conversando, rindo, bebendo cerveja.

Saiu talvez às três horas da noite.

Declaro também, e isto pode ser igualmente apoiado por seguras testemunhas: que às nove horas da manhã do dia seguinte estive no quarto dele. Ainda dormia, acordou sobressaltado à minha voz, e voltou a adormecer em quanto eu procurava entre os seus livros um volume de Taine.

As donas da casa que o hospedam disseram-me que ele entrara pela madrugada.

- Ali pela volta das três e meia, conjeturavam elas.

Ora da minha casa, donde saiu às três, até casa dele, onde entrou às três e meia, o caminho que é longo, ocupa justamente este espaço de tempo.

Por consequência, respondam: quando cometeu ele o crime? O emprego do seu tempo está todo justificado: das nove da noite até à madrugada na minha casa, numa conversa jovial e íntima; da madrugada até às nove, num sono pacífico na sua própria casa.

Resta unicamente a meia hora do caminho, da qual não há testemunhas. É crível que em meia hora pudesse ir alguém a essa casa, preparar ópio, faze-lo beber a um homem, falsificar uma declaração e vir sossegadamente dormir? Tem isto logica?

Demais o crime foi cometido numa casa, o ópio foi deitado num copo de água, dado traiçoeiramente. O cadáver estava meio despido. Tudo isto indica que entre o assassino e o desgraçado houve uma entrevista, tinham conversado intimamente, tinham rido decerto; o que depois morreu tinha talvez calor, pôs-se livremente, tirou o casaco, contaram porventura anedotas, e num momento de sede, o ópio foi dado num copo de água.





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