O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 2: PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I Pág. 8 / 245

Sei que há um abismo entre prometer um tiro e desfecha-lo. Eu movia bem a perna trilhada, o meu amigo estava montado num cavalo possante; somos ambos robustos; poderíamos talvez resistir por dez minutos, ou por um quarto de hora, e durante esse tempo nada mais provável, em estrada tão frequentada como a de Sintra nesta quadra, do que aparecerem passageiros que nos prestassem auxílio.

Todavia confesso que me sentia atraído para o imprevisto de uma tão estranha aventura.

Nenhum caso anterior, nenhuma circunstância da nossa vida nos permitia suspeitar que alguém pudesse ter interesse em exercer connosco pressão ou violência alguma.

Sem eu bem poder a esse tempo explicar porquê, não me parecia também que as pessoas que nos rodeavam projetassem um roubo, menos ainda um homicídio. Não tendo tido tempo de observar miudamente a cada um, e tendo-lhes ouvido apenas algumas palavras fugitivas, figuravam-se-me pessoas de bom mundo. Agora que de espírito sossegado penso no acontecido, vejo que a minha conjetura se baseava em varias circunstâncias dispersas, nas quais, ainda que de relance, eu atentara, mesmo sem propósito de analise. Lembro-me, por exemplo, que era de cetim alvadio o forro do chapéu do que levara a pancada na cabeça. O que apontara o revólver a F… trazia calçada uma luva cor de chumbo apertada com dois botões. O que me ajudara a levantar tinha os pés finos e botas envernizadas; as calças, de casimira cor de avelã, eram muito justas e de presilhas. Tinha esporas.

Não obstante a disposição em que me achava de ceder da luta e de entrar na carruagem, perguntei em alemão ao meu amigo se ele era de opinião que resistíssemos ou que nos rendêssemos.

- Rendam-se, rendam-se para nos poupar algum tempo que nos é precioso! disse gravemente um dos desconhecidos.





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