Um Caso Tenebroso - Cap. 12: XII - UM DUPLO E MESMO AMOR Pág. 131 / 249

Por isso era muito diferente do irmão, homem de aspecto brutal; grande caçador, militar intrépido, cheio de decisão, mas material e sem agilidade de inteligência e sem delicadeza nas coisas do coração. Um era todo alma, o outro todo acção; no entanto possuíam, um e outro, e em grau idêntico, a honra, essa honra que é quanto basta na vida de um gentil-homem. Trigueiro, pequeno, magro e seco, Adriano de Hauteserre tinha, pelo menos, a aparência de um homem muito duro enquanto que o irmão, alto, pálido e loiro, parecia débil. Adriano, de um temperamento nervoso, era forte na alma; Roberto, embora linfático, comprazia-se em provar a sua força puramente corporal.

As famílias apresentam aspectos estranhos cujas causas podem ter o seu interesse; mas não é disso que aqui se trata para explicar como Adriano nunca viria a encontrar no irmão um rival. Roberto tinha por Laurence a afeição de um parente e o respeito de um nobre por uma jovem da sua casta. No ponto de vista dos sentimentos, o mais velho dos Hauteserre pertencia a essa seita de homens que consideram a mulher dependente do homem, reduzindo ao físico o seu direito de maternidade, desejando dela muita perfeição e não lhe prestando grandes atenções. Na sua opinião, admitir a mulher na sociedade; na política, na família, é uma sublevação social.

Tão longe estamos hoje dessa velha opinião dos povos primitivos que quase todas as mulheres, inclusivamente aquelas que não aspiram à funesta liberdade oferecida pelas novas seitas, poderão sentir-se chocadas com isto; mas Roberto de Hauteserre tinha a desgraça de pensar assim. Roberto era um homem da Idade Média, o mais novo, um homem do seu tempo. Estas disparidades, em vez de impedirem o afecto, pelo contrário, haviam-no espicaçado entre os dois irmãos.





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