Um Caso Tenebroso - Cap. 19: XIX-OS DEBATES Pág. 205 / 249

Finalmente, o cavalo de que habitualmente se servia Michu, por mais extraordinário que parecesse, fora ferrado em Troyes, e a marca desse ferro não se encontrava entre as que haviam sido observadas no parque.

- O sósia de Michu desconhecia esta circunstância - disse o Senhor de Granville, olhando para os acusados - e a acusação não provou que nos tenhamos servido de um dos cavalos do castelo.

Aliás, fulminou o depoimento de Violette, no que dizia respeito à semelhança dos cavalos, vistos de longe e por detrás. Apesar dos incríveis esforços do defensor, a massa dos testemunhos positivos esmagava Michu. O acusador, o auditório, o tribunal, os jurados, todos sentiam como o pressentira a defesa que a culpabilidade do servo arrastava consigo a dos amos. Bordin adivinhara, onde estava o nó do processo dando o Senhor Granville como, defensor de Michu; mas desta forma a defesa confessava os seus segredos. Por isso tudo quanto dizia respeito ao antigo administrador de Gondreville se revestia de um interesse palpitante. O comportamento de Michu foi, de resto soberbo. Durante os debates teve ocasião de pôr à prova toda a sagacidade com que a natureza o dotara e, de tanto o ver e ouvir, o público acabou por reconhecer a sua superioridade; mas - coisa espantosa! - este homem, talvez por isso mesmo, mais fortemente avultou como autor, do, atentado. As testemunhas de defesa, menos importantes que as testemunhas de acusação aos olhos dos jurados e da lei, pareciam cumprir um dever, e foram ouvidas como por descargo de consciência. Em primeiro lugar nem Marta nem o Senhor de Hauteserre fizeram juramento; depois Catarina e os Durieu, na sua qualidade, de criados, estavam no mesmo caso. O Senhor de Hauteserre disse que, efectivamente ordenara a Michu que reparasse a estaca derrubada.





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