Um Caso Tenebroso - Cap. 19: XIX-OS DEBATES Pág. 204 / 249

A primeira audiência foi interrompida com esta audaciosa alegação, que surpreendeu os jurados e colocou a defesa em situação vantajosa. Por isso os advogados da cidade e Bordin felicitaram o jovem defensor com verdadeiro entusiasmo. O acusador público, preocupado com aquela asserção, temeu-se de ter caído numa armadilha; e, realmente, acabara por cair numa rede habilmente estendida pelos defensores, e em que Gothard desempenhara admiravelmente o seu papel. Os engraçados da cidade começaram a dizer que tinham emparedado o processo, que o acusador público malograra a sua posição e que os Simeuse estavam brancos como gesso. Em França tudo é pretexto para zombarias, pois a zombaria é rainha em França: zomba-se no cadafalso, na Beresina, nas barricadas, e há franceses que acabarão a zombar, naturalmente, nos grandes debates do juízo final.

No dia seguinte foram ouvidas as testemunhas de acusação: a Senhora Marion, a Senhora Grévin, Grévin, o criado de quarto do senador, e Vi 0lette, cujos depoimentos facilmente podem depreender-se do curso dos próprios acontecimentos. Todos reconheceram os cinco acusados, com maior ou menor hesitação, no caso dos quatro gentis-homens, mas sem hesitações quanto a Michu.

Beausage repetiu a frase que ouvira a Roberto de Hauteserre. O camponês que viera ao castelo para comprar a vitela repetiu a frase da Menina de Cinq-Cygne. Os peritos, ao serem ouvidos, confirmaram o relatório sobre o confronto da marca das ferraduras no solo com as próprias ferraduras dos cavalos dos quatro gentis-homens, que, segundo a acusação, eram absolutamente idênticas. Esta circunstância foi, claro está, objecto de um violento debate entre o Senhor de Granville e o acusador público. O defensor assediou o ferrador de Cinq-Cygne e conseguiu que ficasse consignado nos debates que ferraduras semelhantes tinham sido vendidas alguns dias antes a uns indivíduos desconhecidos na terra, O ferrador declarou, além disso, que não ferrava daquela maneira só os cavalos do castelo de Cinq-Cygne, mas muitos outros no cantão.





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