Os três tinham os rostos lívidos e impassíveis que todos lhe conheceram. Só Carnot estava corado. Por isso o militar foi o primeiro a abrir a boca:
«- De que se trata?
«- Da França - deve ter dito o príncipe, pessoa que eu considero um dos homens mais extraordinários do nosso tempo.
«- Da República - deve ter dito, com certeza, Fouché.
«- Do poder - disse; provàvelrnente, Sieyes». Todos os presentes se entreolharam. De Marsay, na voz, no olhar, no gesto, pintara admiravelmente os três homens.
- Os três padres entenderam-se às mil maravilhas - continuou ele. - Carnot olhou, sem dúvida, para os seus colegas e para o ex-cônsul com um ar bastante digno. Lá por dentro devia estar estupefacto.
«- Parece-lhe que terá êxito? - perguntou-lhe Sieyes,
«- Tudo se pode esperar de Bonaparte - respondeu o ministro da guerra -; atravessou os Alpes com a maior felicidade.
«- Neste momento - disse o diplomata, com uma lentidão calculada - está a jogar tudo.
«- Enfim, cartas na mesa - interveio Fouché -; que faremos nós se o Primeiro Cônsul for vencido? Será possível refazer o exército? Ficaremos nós seus humildes servidores?
«-Nesta altura não há República - observou Sieyes -; ele é cônsul por dez anos.
«- Tem mais poder do que teve Cromwell - acrescentou o bispo - e não votou a morte do rei.
«- Temos um patrão - disse Fouché -; conservá-lo-emos, se ele perder a batalha, ou regressaremos à República pura?
«- A França - replicou, sentenciosamente, Carnot - só poderá resistir regressando à energia convencional.
«- Sou da opinião de Carnot-disse Sieyes. Se Bonaparte voltar derrotado, é preciso acabar com ele; já falou de mais nestes sete meses.
«- Ele tem o exército! - tornou Carnot, pensativo.
«- Nós teremos o povo! - exclamou Fouché.