Um Caso Tenebroso - Cap. 4: IV - FORA A MÁSCARA! Pág. 42 / 249

Ele, que se não sentia apreciado, que interpretava a atitude sofredora e melancólica da mulher por carência de amor, ele, que a deixava entregue a si própria, vivendo noutro mundo, compreendera, de repente, o que queriam dizer as suas lágrimas: amaldiçoava o papel que a sua beleza a obrigara a desempenhar por vontade paterna. A felicidade brilhara com o seu mais vivo esplendor, no meio da tempestade, como um relâmpago. E devia ser um relâmpago! Um e outro evocavam dez anos de desentendimento e acusavam-se a si próprios. Michu ficou de pé, imóvel, o cotovelo apoiado na carabina e o queixo no cotovelo, como que mergulhado num meditar profundo. Um momento assim, eis quanto basta para, se aceitarem as dores do mais doloroso passado.

Agitada por milhares de ideias semelhantes às do marido, Marta sentia o coração opresso com o perigo que corriam os Simeuse, pois compreendera tudo, inclusivamente a presença dos dois parisienses; mas a existência da carabina é que ela não podia compreender Correu como uma corça e dentro de pouco estava no caminho do castelo; muito se surpreendeu ao ouvir atrás dela os passos de outro homem: soltou um grito e a grossa mão de Michu tapou-lhe a boca.

- Do alto do cabeço vi reluzir ao longe a prata dos chapéus debruados. Entra pela brecha do fosso, que fica entre a torre de Mademoiselle e as cavalariças; os cães não. te ladram. Passa pelo jardim, chama a condessinha pela janela; ela que mande selar o cavalo, e que o traga pelo fosso; eu lá estarei, depois de estudar o plano dos parisienses e arranjar maneira de lhes escapar.

O perigo, que rolava como uma avalanche e era preciso evitar, deu asas a Marta.





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