Um Caso Tenebroso - Cap. 6: VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO Pág. 62 / 249

Toda a gente no castelo tinha as suas ocupações, a vida estava ali tão ordenada como num convento. Só Laurence ousava perturbá-la com viagens súbitas, as suas ausências, aquilo a que a Senhora de Hauteserre chamava as suas fugas. No entanto havia em Cinq-Cygne duas políticas e duas causas de dissensões. Em primeiro lugar, Durieu e a mulher tinham ciúmes de Gothard e de Catarina, que viviam mais do que eles na intimidade da sua ama, o ídolo da casa. Depois, os dois Hauteserre, apoiados pela; Menina Goujet e pelo cura, queriam que os seus filhos, bem como os gémeos Simeuse regressassem à pátria e participassem na felicidade daquela vida tranquila, em vez de viverem penosamente no estrangeiro. Laurence combatia esta odiosa transacção, e representava o realismo puro, militante e implacável.

Os quatro senhores idosos, que não estavam dispostos a ver comprometida uma existência feliz, nem aquele recanto, reconquistado às águas furiosas da torrente revolucionária, procuravam converter Laurence às suas doutrinas, realmente prudentes" adivinhando o papel importante que ela desempenhava na resistência que os seus dois filhos e os gémeos Simeuse opunham ao seu regresso a França. O soberbo desdém da sua pupila apavorava aquela pobre gente, que se não enganava pressentindo ali uma cabeçada. A dissensão eclodira na altura em que se dera a explosão da máquina infernal na Rua Saint-Nicaise, a primeira tentativa dos realistas contra o vencedor de Marengo, depois da recusa a um entendimento com a casa de Bourbon. Os Hauteserre consideraram um privilégio ter Bonaparte escapado àquele perigo, convencidos, de que os republicanos eram os autores do atentado. Laurence chorou de raiva por ver que o Primeiro. Cônsul se salvara. E o seu desespero levou de vencida a sua dissimulação habitual; acusou Deus de atraiçoar os filhos de São Luís.





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