Um Caso Tenebroso - Cap. 6: VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO Pág. 61 / 249

Um velho jardineiro, a mulher, o filho, pagos à jorna, e a filha, que fazia as vezes de vaqueira, completavam o pessoal do castelo. Seis meses antes, Durieu mandara fazer em segredo uma libré, com as cores dos Cinq-Cygne, para o filho do jardineiro e para Gothard. Embora houvesse recebido uma boa descompostura do fidalgo, que reprovara a imprudência, ao menos tivera a satisfação de ver o jantar, servido, no dia de Saint-Laurent, aniversário de Laurence, quase como nos velhos tempos.

Esta penosa e lenta restauração das coisas causava grande alegria ao Senhor e à Senhora de Hauteserre e aos Durieu. Laurence sorria do que ela chamava infantilidades. Mas o bom do Senhor de Hauteserre também pensava em coisas sólidas: reparava os edifícios, reconstruía os muros, e onde via maneira de fazer vingar uma árvore, lá estava a plantá-la, e não havia polegada de terra que ele não procurasse valorizar. Eis porque as gentes do vale de Cinq-Cygne o consideravam uma espécie de oráculo em coisas agrícolas. Soubera recuperar cem arpentos de terra contestada; não vendida, e anexada pela comuna aos bens comunais; convertera-os em pradarias artificiais, pasto para o gado do castelo, e rodeara-os de plátanos que de há seis anos para cá cresciam a olhos vistos. Pensava resgatar algumas terras e utilizar todas as instalações do castelo, formando assim uma segunda quinta, que esperava administrar ele próprio.

A vida, nos últimos dois anos, tornara-se quase feliz no castelo. O Senhor de Hauteserre largava de casa ao nascer do sol, ia vigiar os seus operários, pois trazia sempre gente a trabalhar, fosse por que tempo fosse; voltava para o almoço, depois montava num poldro da lavoura, e fazia o seu giro como um guarda; no regresso a casa para jantar, acabava o dia a jogar o boston.





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