O Conde de Monte Cristo - Cap. 2: O pai e o filho Pág. 10 / 1080

Não quero que continues sozinho. Tenho café de contrabando e excelente tabaco num baúzinho no porão. Dar-tos-ei amanhã. Mas caluda que vem aí alguém!

- É Caderousse. Deve ter sabido da tua chegada e vem, sem dúvida, dar-te as boas-vindas.

- Deus nos livre dos lábios que dizem uma coisa enquanto o coração sente outra - murmurou Edmond. - Mas não importa, é um vizinho que noutros tempos nos ajudou; que seja bem-vindo.

Com efeito, quando Edmond acabava esta frase em voz baixa apareceu enquadrada na porta do patamar a cabeça negra e barbuda de Caderousse. Era um homem de vinte e cinco a vinte seis anos.

Trazia na mão um bocado de tecido que, na sua qualidade de alfaiate, se preparava para transformar numa banda de casaca.

- Com que então de volta, bem, Edmond - disse com um aceno marselhês dos mais pronunciados e um amplo sorriso que lhe descobriu os dentes brancos como marfim.

- É como vê, vizinho Caderousse, e pronto a ser-lhe agradável no que quer que seja - respondeu Dantès, escondendo mal a sua frieza debaixo desta oferta de serviços.

- Obrigado, obrigado. Felizmente, não preciso de nada, e às vezes até são os outros que precisam de mim....

Dantès esboçou um gesto.

- Não digo isto por ti, rapaz - prosseguiu o outro. - Emprestei-te dinheiro, pagaste-mo. São coisas que se trazem entre bons vizinhos e estamos quites.

- Nunca estamos quites para com aqueles que nos obsequiaram - declarou Dantès. - Porque quando já lhos não devemos dinheiro devemos-lhe reconhecimento.

- Que adianta falar disso? O que lá vai, lá vai! Falemos antes do teu feliz regresso, rapaz. Passava por acaso pelo porto para ir comprar fazenda castanha quando encontrei o amigo Danglars.

« - Tu em Marselha?

« - Claro, como vês - respondeu-me.

« - Julgava-te em Esmirna.

« - Acabo de chegar de lá

« - E Edmond, onde está?

« - Em casa do pai, sem dúvida - respondeu Danglars. - E foi então que resolvi cá vir - continuou Caderousse - para ter o prazer de apertar a mão a um amigo!

- Este bom Caderousse gosta tanto de nós - observou o velhote.

- Claro que gosto de vocês e também que os estimo, atendendo a que as pessoas honestas são raras! Mas parece que enriqueceste, rapaz... - continuou o alfaiate, deitando um olhar de esguelha ao punhado de ouro e prata que Dantès pusera em cima da mesa.

O jovem notou o relâmpago de cupidez que iluminou os olhos negros do vizinho.

- Por Deus - disse negligentemente -, esse dinheiro não é meu. Manifestava ao pai o receio de que lhe tivesse faltado alguma coisa na minha ausência e, para me tranquilizar, ele despejou a bolsa em cima da mesa.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069