O Conde de Monte Cristo - Cap. 115: A ementa de Luigi Vampa Pág. 1062 / 1080

Peppino fez um sinal, o rapaz estendeu as mãos e retirou rapidamente o frango. Danglars atirou-se para cima da sua cama de peles de bode, Peppino, voltou a fechar a porta e continuou a comer o seu grão com toucinho.

Danglars não podia ver o que fazia Peppino, mas o bater dos dentes do bandido não devia deixar ao prisioneiro qualquer dúvida acerca do exercício a que se dedicava.

Era evidente que comia; embora comesse ruidosamente e como um homem mal educado.

- Alarve! - gritou Danglars.

Peppino fez de conta que não ouvira, e sem sequer virar a cabeça continuou a comer com propositada lentidão.

Danglars tinha a sensação de ter o estômago furado como o tonel das Danaides e desconfiava que nunca o conseguiria encher.

No entanto, armou-se de paciência durante mais meia hora; mas é justo dizer que essa meia hora lhe pareceu um século.

Levantou-se e dirigiu-se de novo para a porta.

- Vejamos, senhor, não abusem mais tempo da minha paciência e digam-me imediatamente o que querem de mim

- Mas, Excelência, diga antes o que quer de nós... Dê-nos as suas ordens e cumpri-las-emos.

- Então abra primeiro.

Peppino abriu.

- Quero... - começou Danglars. - Irra, quero comer!

- Tem fome?

- Bem sabe que tenho.

- Que deseja comer V. Ex.a?

- Um naco de pão seco, visto os frangos serem demasiado caros nestes malditos subterrâneos.

- Pão? Seja - concordou Peppino. - Olá, pão! - gritou.

O rapaz trouxe um pãozinho.

- Pronto! - disse Peppino.

- Quanto? - perguntou Danglars.

- Quatro mil novecentos e noventa e oito luíses. Há dois luíses pagos adiantados.

- Como, um pão cem mil francos?...

- Cem mil francos - repetiu Peppino.

- Mas também me pediu cem mil francos por um frango!

- Nós não servimos à lista, mas sim a preço fixo. Quer se coma pouco, quer se coma muito, quer se peçam dez pratos, quer se peça só um, paga-se sempre o mesmo.

- Outra brincadeira! Meu caro amigo, declaro-lhe que tudo isto é absurdo, estúpido! Diga-me de uma vez que querem que morra de fome e acabaremos mais depressa.

- Mas não, Excelência! V. Ex.a é que se quer suicidar... Pague e comerá

- Pagar com quê, grande animal? - redarguiu Danglars, exasperado. - Julgas que alguém traz cem mil francos na algibeira?

- O senhor traz cinco milhões e cinquenta mil francos na sua, Excelência... - observou Peppino. - Isso dá para cinquenta frangos a cem mil francos e para meio frango a cinquenta mil...

Danglars estremeceu; a venda caiu-lhe dos olhos: continuavam a brincar com ele, mas finalmente compreendia a brincadeira.

E até de justiça que se diga que já a não achava tão chata como pouco antes.

- Vejamos, vejamos... Se lhes der os cem mil francos ficarei quite e poderei comer à minha vontade?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069