O Conde de Monte Cristo - Cap. 22: Os contrabandistas Pág. 183 / 1080

Mostrava-lhe o recorte da costa, explicava-lhe as variações da bússola e ensinava-o a ler no grande livro aberto por cima das nossas cabeças, a que chamamos céu e onde Deus escreveu no azul com letras de diamante.

E quando Jacopo lhe perguntava:

- Que adianta ensinar todas essas coisas a um pobre marinheiro como eu? Edmond respondia:

- Quem sabe? Talvez um dia sejas comandante de navio. O teu compatriota Bonaparte conseguiu ser imperador!

Esquecemo-nos de dizer que Jacopo era corso.

Tinham passado já dois meses e meio nestas viagens sucessivas. Edmond tornara-se tão hábil cabotador como fora outrora ousado marinheiro. Estabelecera relações com todos os contrabandistas da costa e aprendera todos os sinais maçónicos com o auxílio dos quais os meio-piratas se reconhecem uns aos outros.

Passara e repassara vinte vezes diante da ilha de Monte-Cristo, mas em todas elas nem uma só vez encontrara oportunidade de lá desembarcar.

Tomara portanto uma resolução: assim que o seu contrato com o patrão da Jeune-Amélie caducasse, alugaria um barquito (Dantès podia fazê-lo, pois durante as suas diversas viagens amealhara uma centena de piastras) e, sob qualquer pretexto, dirigir-se-ia para a ilha de Monte-Cristo.

Uma vez lá, procederia com toda a liberdade às suas pesquisas. Não com inteira liberdade, pois seria, sem dúvida nenhuma, espiado por aqueles que o tivessem transportado.

Mas em tais momentos é sempre necessário arriscar alguma coisa.

A prisão tornara Edmond prudente e gostaria muito de não arriscar nada.

Mas por mais tratos que desse à imaginação e por mais fecunda que esta fosse, não via outro meio de chegar à ilha tão cobiçada senão fazendo-se lá transportar.

Dantès debatia-se nestas hesitações quando o patrão, que se habituara a depositar uma grande confiança nele e que desejava muito conservá-lo ao seu serviço, lhe pegou uma noite pelo braço e o levou a uma taberna da Via del Oglio em que habitualmente se reunia a nata dos contrabandistas de Liorne.

Era ali que por via de regra se tratava dos negócios da costa. Dantès já entrara duas ou três vezes naquela bolsa marítima. E ao ver aqueles ousados piratas que forneciam todo um litoral num raio de cerca de duas mil léguas perguntara a si mesmo de que poder não disporia um homem que conseguisse submeter à sua vontade todos aqueles fios reunidos ou divergentes.

Desta vez tratava-se de um grande negócio, de um navio carregado de tapetes turcos, tecidos do Levante e de Caxemira. Era necessário encontrar um terreno neutro onde a permuta se pudesse fazer e depois tentar desembarcar esses objectos nas costas da França.

O bolo era enorme: cinquenta a sessenta piastras por homem se o negócio fosse bem sucedido.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069