O Conde de Monte Cristo - Cap. 23: A ilha de Monte-Cristo Pág. 187 / 1080

A ilha era familiar à tripulação da Jeune-Amélie, pois constituía uma das suas habituais estações. Quanto a Dantès, vira-a em todas as suas viagens no Levante, mas nunca lá desembarcara.

Interrogou Jacopo:

- Onde passamos a noite?

- Mas... a bordo da tartana - respondeu o marinheiro.

- Não ficaríamos melhor nas grutas?

- Em quais grutas?

- Nas grutas da ilha.

- Não conheço tais grutas - respondeu Jacopo.

Um suor frio inundou a testa de Dantès.

- Não há grutas em Monte-Cristo? - insistiu.

- Não.

Dantès ficou um instante aturdido. Depois pensou que as grutas podiam ter sido entulhadas mais tarde, devido a qualquer acidente, ou até fechadas, para maior precaução, pelo cardeal Spada.

Nesse caso, tudo se resumia em encontrar essa abertura perdida. Mas seria inútil procurá-la durante a noite. Dantès adiou portanto a investigação para o dia seguinte. De resto, um sinal içado a cerca de meia légua no mar, e ao qual a Jeune-Amélie respondeu imediatamente com um sinal idêntico, indicou-lhe que chegara o momento de deitar mãos ao trabalho.

O navio retardatário, tranquilizado com o sinal que devia dar-lhe a conhecer que se podia aproximar com toda a segurança, surgiu imediatamente, branco e silencioso como um fantasma, e ancorou a uns duzentos metros da costa.

O transporte começou logo a seguir.

Enquanto trabalhava, Dantès pensava no hurra de alegria que com uma só palavra poderia levar todos aqueles homens a soltar se revelasse em voz alta o pensamento que incessantemente lhe sussurrava baixinho ao ouvido e ao coração. Mas, ao contrário de revelar o magnífico segredo, temia já ter dito demasiado a tal respeito e despertado suspeitas com as suas idas e vindas, as suas perguntas repetidas, as suas observações minuciosas e a sua preocupação contínua. Felizmente, para esta circunstância pelo menos, que nele um passado deveras doloroso lhe deixara reflectida no rosto uma tristeza indelével e que os lampejos de alegria entrevistos através dessa nuvem não passavam realmente de relâmpagos.

Ninguém desconfiava portanto de nada, pelo que no dia seguinte, quando Dantès pegou numa espingarda, em chumbo e em pólvora e manifestou o desejo de ir matar uma das numerosas cabras-monteses que se viam saltar de rochedo em rochedo toda a gente atribuiu a excursão apenas ao amor da caça ou ao desejo de isolamento. Só Jacopo o acompanhou. Dantès não quis opor-se à sua presença com receio de que a repugnância em ser acompanhado inspirasse algumas desconfianças.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069