O Conde de Monte Cristo - Cap. 23: A ilha de Monte-Cristo Pág. 188 / 1080

Mas assim que percorreu um quarto de légua e teve oportunidade de atirar a matar a um cabrito, mandou Jacopo levá-lo aos companheiros, para que o cozinhassem e, quando estivesse pronto, lhe dessem sinal para ir comer a sua parte disparando um tiro de espingarda. Alguns frutos secos e uma garrafa de vinho de Monte Pulciano completariam o banquete.

Dantès continuou o seu caminho, virando-se de vez em quando.

Chegado ao topo de uma rocha viu mil pés abaixo de si os companheiros, aos quais acabava de se juntar Jacopo, que se ocupavam já activamente dos preparativos do almoço, aumentado, graças à destreza de Edmond, com uma peça fundamental.

Edmond olhou-os um instante com o sorriso bondoso e triste do homem superior.

«Dentro de duas horas», pensou, «voltarão a partir cinquenta piastras mais ricos para irem, arriscando a vida, tentar ganhar mais cinquenta. Depois regressarão seiscentas libras mais ricos e delapidarão esse tesouro em qualquer cidade, com o orgulho de sultões e a despreocupação de nababos. Hoje a esperança leva-me a desprezar a sua riqueza, que me parece a maior miséria; amanhã, talvez a decepção me obrigue a olhar essa grande miséria como a felicidade suprema... Mas, oh, não, isso não acontecerá! O sábio, o infalível Faria, não se havia de enganar logo nessa única coisa. De resto, mais valeria morrer do que continuar a levar esta vida miserável e inferior.»

Deste modo, Dantès, que havia três meses só aspirava à liberdade, já se não contentava apenas com a liberdade, aspirava também à riqueza. E a culpa não era dele, mas sim de Deus, que limitando o poder do homem lhe provocou desejos infinitos! Entretanto, por um caminho aberto entre duas muralhas de rochas e seguindo um carreiro aberto pela torrente e que, segundo todas as probabilidades, nunca fora pisado por pé humano, Dantès aproximara-se do local onde supunha que as grutas deviam ter existido. Seguindo junto à costa e examinando os menores objectos com toda a atenção, julgou notar em certos rochedos entalhes feitos pela mão do homem.

O tempo que lança sobre todas as coisas físicas o seu manto de musgo, tal como sobre as coisas morais o seu manto de esquecimento, parecia ter respeitado aqueles sinais traçados com certa regularidade e provavelmente com o fim de indicar uma pista. De tempos a tempos, porém, os sinais desapareciam sob tufos de murta que desabrochava em grandes ramos carregados de flores ou debaixo de íquenes parasitas. Edmond tinha então de afastar os ramos ou de levantar o musgo para reencontrar os sinais indicadores que o conduziam naquele outro labirinto. Esses sinais tinham, de resto, dado boas esperanças a Edmond.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069