O Conde de Monte Cristo - Cap. 3: Os Catalães Pág. 21 / 1080

Danglars olhou sucessivamente para os dois homens: um embrutecido pela embriaguez, o outro dominado pelo amor.

- Não conseguirei nada destes idiotas - murmurou - e não é muito seguro para mim estar aqui entre um bêbedo e um poltrão. Eis um invejoso que se embebeda com vinho, quando deveria inebriar-se com fel, e um imbecil a quem acabam de roubar a amante diante do nariz e que se limita a choramingar e a lamentar-se como um garoto. E no entanto possui olhos chamejantes como esses espanhóis, esses sicilianos e esses calabreses, que se vingam tão bem, e punhos capazes de esmagar a cabeça de um boi tão seguramente como a maça de um magarefe. Decididamente, o destino de Edmond está traçado: casará com aquela linda rapariga, será comandante e rir-se-á de nós. A menos que... - um sorriso lívido desenhou-se nos lábios de Danglars - a menos que eu interfira nele - acrescentou.

- Olá! - continuava a gritar Caderousse, semi levantado e com os punhos na mesa. - Olá, Edmond! Não vês os amigos ou já te tornaste tão orgulhoso que não lhes falas?

- Não, meu caro Caderousse - respondeu Dantès. - Não me tornei orgulhoso, mas sinto-me feliz e a felicidade cega, creio, ainda mais do que o orgulho.

- Ainda bem! Aí está uma boa explicação - admitiu Caderousse. - Eh, bons dias, Sra. Dantès!

Mercédès cumprimentou gravemente.

- Esse não é ainda o meu nome - redarguiu - e na minha terra isso dá azar, dizem. Não se deve chamar as raparigas pelo nome do noivo antes de o noivo ser seu marido. Trate-me apenas por Mercédès, peço-lhe.

- Temos de perdoar essas coisas ao nosso bom vizinho Caderousse - interveio Dantès. - Engana-se tão pouco!...

- Quer dizer que a boda está para breve, Sr. Dantès? - perguntou Danglars, cumprimentando os dois jovens.

- Será o mais depressa possível, Sr. Danglars. Hoje realizar-se-ão os esponsais em casa do meu pai e amanhã ou depois de amanhã, o mais tardar, o jantar de noivado, aqui, na Réserve.

Espero que os amigos não faltem e escusado será dizer que está convidado, Sr. Danglars. E tu também, Caderousse.

- E Fernand? - perguntou Caderousse, rindo com voz pastosa. - E Fernand também?

- O irmão da minha mulher é meu irmão - declarou Edmond - e tanto Mercédès como eu o veríamos com profundo pesar afastar-se de nós em semelhante momento.

Fernand abriu a boca para responder, mas a voz morreu-lhe na garganta e não conseguiu articular uma única palavra.

- Hoje os esponsais, amanhã ou depois de amanhã o noivado... Demónio, está com muita pressa, comandante!

- Danglars - redarguiu Edmond, sorrindo -, digo-lhe o mesmo que Mercédès disse há pouco a Caderousse: não me trate pelo posto que ainda não me pertence, pois dar-me-ia azar.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069