O Conde de Monte Cristo - Cap. 30: O 5 de Stembro Pág. 247 / 1080

No regimento, Maximilien Morrel era citado como rígido observador não só de todas as obrigações impostas aos soldados, mas ainda de todos os deveres inerentes ao homem, pelo que só o tratavam por estóico. Escusado será dizer que muitos daqueles que lhe davam este epíteto o repetiam por o ter ouvido e nem sequer sabiam o que ele significava.

Era este jovem que a mãe e a irmã chamavam em seu auxílio, para as amparar na circunstância grave em que pressentiam ir encontrar-se.

Não se enganavam acerca da gravidade dessa circunstância, porque pouco depois de o Sr. Morrel entrar no seu gabinete com Coclès, Julie viu sair este último, pálido, trémulo e de rosto descomposto.

Quis interrogá-lo ao passar por ela, mas o excelente homem continuou a descer a escada com uma precipitação que lhe não era habitual e limitou-se a exclamar, erguendo os braços ao céu:

- Oh, menina, menina, que horrível desgraça! Quem esperaria alguma vez uma coisa destas! Pouco depois, Julie viu-o tornar a subir carregado com dois ou três volumosos registos, uma pasta e um saco de dinheiro.

Morrel consultou os registos, abriu a pasta e contou o dinheiro.

Todos os seus recursos ascendiam a seis ou oito mil francos e as suas cobranças até ao dia cinco a quatro ou cinco mil, o que totalizava, avaliando por alto, um activo de catorze mil francos para pagar uma letra de duzentos e oitenta e sete mil e quinhentos francos. Nem sequer havia meio de oferecer semelhante amortização.

No entanto, quando desceu para jantar, Morrel parecia bastante calmo. Mas tal calma assustou mais as duas mulheres do que o faria o mais profundo abatimento.

Depois do jantar, Morrel tinha o hábito de sair. Ia tomar o café ao Círculo dos Fócios e ler o Sémaphore. Naquele dia, porém, não saiu e tornou a subir para o seu gabinete.

Quanto a Coclès, parecia completamente estupidificado. Durante parte do dia conservara-se no pátio, sentado numa pedra, de cabeça descoberta debaixo de um sol de trinta graus.

Emmanuel tentava tranquilizar as mulheres, mas era pouco eloquente. o rapaz encontrava-se tão ao corrente dos negócios da casa que não podia deixar de adivinhar que uma grande catástrofe estava prestes a desabar sobre a família Morrel.

Anoiteceu. As duas mulheres não se deitaram, esperando que quando descesse do seu gabinete Morrel fosse ter com elas. Mas ouviram-no passar diante da sua porta e estugar o passo, receando, sem dúvida, que o chamassem.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069