O Conde de Monte Cristo - Cap. 31: Itália - Simbad, o marinheiro Pág. 259 / 1080

- Eu sabia da existência de contrabandistas, mas pensava que depois da tomada de Argel e da destruição da Regência os piratas já só existissem nos romances de Cooper e do capitão Marryat

- Pois Vossa Excelência enganava-se. Existem tanto piratas como bandidos, supostamente exterminados pelo papa Leão XII, mas que no entanto assaltam todos os dias os viajantes, até às portas de Roma. Não ouviu dizer que apenas há seis meses o encarregado de negócios da França junto da Santa Sé foi roubado a quinhentos passos de Velletri?

- Ouvi

- Pois bem, se Vossa Excelência morasse em Liorne, como nós, ouviria dizer de tempos a tempos que um naviozinho carregado de mercadorias ou que um bonito iate inglês, esperados em Bástia, Porto Ferraio ou Civitta-Vecchia, não chegara nem se sabia que lhe acontecera, mas que sem dúvida se despedaçara contra qualquer rochedo. Bom, o rochedo que encontrou foi uma barca baixa e estreita tripulada por seis ou oito homens, que o surpreenderam ou pilharam numa noite escura e tempestuosa, nas imediações de alguma ilha selvagem e desabitada, tal como os bandidos detêm e pilham uma sege de posta no recanto de um bosque.

- Mas sendo assim - redarguiu Franz, que continuava deitado na barca - por que motivo é que aqueles a quem acontecem semelhantes acidentes se não queixam, não exigem que recaia sobre os piratas a vingança do governo francês, sardo ou toscano?

- Por que motivo? - repetiu Gaetano com um sorriso.

- Sim, por que motivo?

- Porque primeiro transportam do navio ou do iate para a barca tudo o que tem algum valor; depois, amarram os pés e as mãos da tripulação, prendem ao pescoço de cada homem um pelouro de 24, abrem um buraco do tamanho de uma barrica na quilha do navio capturado, sobem à coberta, fecham as escotilhas e passam para a barca. Ao cabo de dez minutos o navio começa a inclinar-se e a ranger, e afunda-se pouco a pouco. Primeiro, mergulha um dos lados; depois, o outro; em seguida ergue-se, volta a mergulhar e submerge-se sempre mais. De súbito, ouve-se um estampido semelhante a um tiro de canhão: é o ar que quebra a coberta. Então, o navio agita-se como um afogado que se debate e cujos movimentos são cada vez mais pesados.

Não tarda que a água, demasiado comprimida nas cavidades, saia pelas aberturas, como as colunas líquidas que lança pelos seus respiradouros qualquer cachalote gigantesco.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069