O Conde de Monte Cristo - Cap. 33: Bandidos Romanos Pág. 285 / 1080

Quando se mostra a um amigo uma cidade já conhecida, põe-se nisso a mesma presunção que se usa para mostrar uma mulher de que se foi amante.

Nesta conformidade, Franz traçou ao cocheiro o itinerário: devia sair pela Porta del Popolo, seguir ao longo da muralha exterior e reentrar pela Porta de San-giovanni. Assim, o Coliseu aparecer-lhes-ia sem qualquer preparação e sem que o Capitólio, o Forum, o Arco de Séptimo Severo, o Templo de Antonino e Faustina e a Via Sacra servissem de degraus colocados no caminho para o encurtar.

Sentaram-se à mesa. Mestre Pastrini prometera aos seus hóspedes uma boa refeição. Deu-lhes um jantar razoável. Não havia nada a dizer.

Ele próprio apareceu no fim do jantar. Franz julgou a princípio que fosse para receber os seus cumprimentos e preparava-se para lhos dirigir quando ele o interrompeu às primeiras palavras.

- Excelência, estou lisonjeado com a sua aprovação, mas não foi para isso que cá vim...

- Foi para nos dizer que arranjou uma carruagem? - perguntou Albert, acendendo um charuto.

- Ainda menos, e até, Excelência, faria bem em não pensar mais nisso e tirar do caso o melhor partido. Em Roma, as coisas podem-se ou não se podem. Quando nos dizem que se não podem, acabou-se.

- Em Paris é mais cómodo: quando se não pode, paga-se o dobro e tem-se imediatamente o que se pretende.

- Tenho ouvido dizer isso a todos os franceses – redarguiu mestre Pastrini um bocadinho irritado -, o que me leva a não compreender por que motivo viajam.

- A verdade - disse Albert, expelindo fleumaticamente o fumo para o tecto, inclinando-se para trás e balouçando-se nas duas pernas de trás do cadeirão - é que são os loucos e os parvos como nós que viajam. As pessoas sensatas não saem do seu palácio da Rua do Helder, do Buievar de Gand e do Café de Paris.

Escusado será dizer que Albert residia na rua citada, dava todos os dias o seu passeio de bom-tom e jantava diariamente no único café onde se janta quando se está bem relacionado com os criados.

Mestre Pastrini ficou um instante silencioso. Era evidente que meditava a resposta, que sem dúvida não lhe parecia perfeitamente clara.

- Mas enfim - disse Franz por seu turno, interrompendo as reflexões geográficas do seu hoteleiro -, veio cá com qualquer finalidade. Quer expor-nos o objecto da sua visita?

- Tem razão. Ei-lo: mandaram vir a caleça às oito horas?

- Exactamente.

- Tencionam visitar il Colosseo?

- Quer dizer o Coliseu?

- É precisamente a mesma coisa.

- Seja.

- Disseram ao cocheiro para sair pela Porta del Popolo, dar a volta às muralhas e reentrar pela Porta de San- Giovanni?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069