- Foram essas as minhas próprias palavras.
- Pois bem, esse itinerário é impossível.
- Impossível?...
- Ou pelo menos perigosíssimo.
- Perigosíssimo... E porquê?
- Por causa do famoso Luigi Vampa.
- Antes de mais nada, meu caro hoteleiro, quem é o famoso Luigi Vampa? - perguntou Albert. - Pode ser famosíssimo em Roma, mas previno-o de que é ignorado em Paris.
- Como, não o conhecem?!
- Não tenho essa honra.
- Nunca ouviu pronunciar o seu nome?
- Nunca.
- Bom, trata-se de um bandido comparado com o qual os Deseraris e os Gasparoni não passam de uma espécie de meninos de coro.
- Atenção, Albert, aí está finalmente um bandido! - exclamou Franz.
- Previno-o, meu caro hoteleiro, de que não acreditarei numa só palavra do que nos vai dizer. É ponto assente entre nós. Mas diga o que lhe apetecer que sou todo ouvidos. «Era uma vez... » Vá, comece!
Mestre Pastrini virou-se para Franz, que lhe parecia o mais razoável dos dois rapazes. Deve-se fazer justiça ao excelente homem: hospedara muitos franceses na sua vida, mas nunca compreendera certa faceta do seu espírito.
- Excelência - disse muito gravemente dirigindo-se, como dissemos, a Franz -, se me considera um mentiroso, é inútil dizer-lhe o que tencionava dizer-lhe. Posso no entanto afirmar-lhes que era no interesse de Vossas Excelências.
- Albert não lhe disse que era um mentiroso, meu caro Sr. Pastrini - redarguiu Franz. - Disse-lhe que não o acreditaria e mais nada.
- Mas eu acreditá-lo-ei, esteja descansado. Fale, pois.
- Contudo, Excelência, compreende muito bem que se se põe em dúvida a veracidade das minhas palavras...
- Meu caro - observou Franz -, o senhor é mais susceptível do que Cassandra, que no entanto era profetisa e que ninguém escutava, ao passo que você está seguro, pelo menos, de metade do seu auditório. Vejamos, sente-se e diga-nos quem é o Sr. Vampa.
- Já lhe disse, Excelência: é um bandido como ainda não vimos nenhum desde o famoso Mastrilla.
- De acordo. Mas que relação tem esse bandido com a ordem que dei ao cocheiro de sair pela Porta del Popolo e entrar pela Porta de San- Giovanni?
- Tem - respondeu mestre Pastrini - que podem muito bem sair por uma, mas duvido que entrem pela outra.
- Porquê? - perguntou Franz.
- Porque assim que anoitece não se está seguro a cinquenta passos das portas.
- Palavra de honra? - troçou Albert.