O Conde de Monte Cristo - Cap. 6: O substituto do Procurador Régio Pág. 40 / 1080

. Que quer, marquesa? Cromwell, que não era mais de metade de tudo o que foi Napoleão, também tinha os seus!

- Sabe que tudo isso que acaba de dizer, Villefort, cheira a revolução à légua? Mas perdoo-lhe: não se pode ser filho de girondino sem se conservar alguns dos seus gostos.

A fronte de Villefort cobriu-se de vivo rubor.

- Meu pai era girondino, minha senhora, é verdade - redarguiu -, mas foi proscrito por esse mesmo Terror que vos proscrevia, e pouco faltou para não lhe colocarem a cabeça no mesmo cadafalso que viu cair a do pai da Sra. Marquesa.

- É verdade - admitiu a marquesa, sem que tão sangrenta recordação provocasse a menor alteração no seu rosto. – Em todo o caso, seria por motivos diametralmente opostos que ambos subiriam ao cadafalso, e a prova é que toda a minha família permaneceu fiel aos príncipes exilados, enquanto o seu pai se apressou a aderir ao novo governo e depois de o cidadão Noirtier ser girondino o conde Noirtier tornou-se senador.

- Minha mãe - interveio Renée -, bem sabe que se combinou não voltar a falar dessas más recordações.

- Minha senhora - prosseguiu Villefort -, junto-me a Mademoiselle de Saint-Méran para lhe pedir muito humildemente o esquecimento do passado. Que adianta estarmos com recriminações a respeito de coisas em que a própria vontade de Deus é importante? Deus pode modificar o futuro, mas não pode modificar o passado. Nós, homens, o que podemos é, senão renegá-lo, pelo menos deitar-lhe um véu por cima. Pela minha parte afastei-me não só da opinião, mas também do nome do meu pai. Meu pai foi ou até talvez ainda seja bonapartista e chama-se Noirtier; eu sou monárquico e chamo-me Villefort. Deixe morrer no velho tronco um resto de seiva revolucionária e veja apenas, minha senhora, o rebento que se afasta desse tronco, sem poder, e quase direi sem querer, separar-se dele por completo.

- Bravo, Villefort! - exclamou o marquês. - Bravo, bem respondido! Também eu tenho pregado constantemente à marquesa o esquecimento do passado sem nunca o conseguir. Espero que seja mais feliz do que eu.

- Sim, está bem - condescendeu a marquesa -, esqueçamos o passado. Não desejo outra coisa e foi, de facto, o que se combinou. Mas que pelo menos Villefort seja inflexível no futuro.

Não se esqueça, Villefort, de que respondemos por si perante Sua Majestade; de que também Sua Majestade se dignou esquecer, a nosso pedido, e estender-lhe a mão, tal como eu esqueço a seu pedido. Simplesmente, se lhe cair algum conspirador nas mãos, lembre-se de que tem tantos mais olhos postos em si quanto se sabe pertencer a uma família que talvez esteja relacionada com esses conspiradores.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069