Bertuccio inclinou-se respeitosamente diante do conde e retirou-se, suspirando.
Monte-Cristo ficou só. Deu quatro passos em frente e murmurou:
- Aqui, ao pé deste plátano, a cova onde a criança foi depositada; lá adiante, a portinha por onde se entrava no jardim, àquele canto, a escada oculta que leva ao quarto. Parece-me que não necessito de anotar tudo isto, pois tenho diante dos meus olhos, à minha volta e debaixo dos meus pés, a planta em relevo, a planta viva.
Depois de uma última volta ao jardim, o conde dirigiu-se para a carruagem. Bertuccio, que o achou pensativo, subiu sem dizer nada para o lugar ao lado do cocheiro.
A carruagem retomou o caminho de Paris.
Naquela mesma noite, após chegar à casa dos Campos Elísios, o conde de Monte-Cristo visitou todo o edifício como o faria um homem familiarizado com ele há longos anos. Nem uma só vez, embora fosse à frente, abriu uma porta por outra ou tomou por uma escada ou por um corredor que o não levasse directamente aonde contava ir. Ali acompanhava-o na sua revista nocturna. O conde deu a Bertuccio várias ordens com vista ao embelezamento ou à nova arrumação da casa e, puxando do relógio, disse ao núbio, atento:
- São onze e meia. Haydée não deve tardar. As mulheres francesas estão avisadas?
Ali estendeu a mão para os aposentos destinados à bela grega, que ficavam de tal forma isolados que, ocultando a porta com uma tapeçaria, se podia visitar toda a casa sem suspeitar que havia ali uma sala e dois quartos habitados. Ali, dizíamos, estendeu a mão para os aposentos, fez o número três com os dedos da mão esquerda e, apoiando a cabeça nessa mesma mão, depois de aberta, fechou os olhos como se dormisse.