O Conde de Monte Cristo - Cap. 46: O crédito ilimitado Pág. 456 / 1080

- Permito-me observar a V. Ex.a que já são duas horas - arriscou o intendente.

- Bem sei - limitou-se a responder Monte-Cristo.

Depois, virando-se para Ali:

- Manda passar todos os cavalos diante da senhora para que escolha a parelha que mais lhe agradar e pede-lhe que me mande dizer se quer jantar comigo. Nesse caso, o jantar será servido nos seus aposentos. Vai. Quando desceres, manda-me o meu criado de quarto.

Ali acabava de desaparecer quando o criado de quarto entrou por seu turno.

- Sr. Baptistin - disse-lhe o conde -, há um ano que está ao meu serviço; é o tempo de experiência que imponho habitualmente ao meu pessoal. O senhor serve-me.

Baptistin inclinou-se.

- Resta saber se eu lhe sirvo.

- Oh, Sr. Conde! - apressou-se a dizer Baptistin.

- Ouça-me até ao fim - prosseguiu o conde. - O senhor ganha por ano mil e quinhentos francos, isto é, o soldo de um bom e bravo oficial que arrisca todos os dias a vida, e tem uma mesa que muitos chefes de repartição, pobres servidores infinitamente mais ocupados do que o senhor, lhe invejariam. Criado, tem o senhor mesmo criados que lhe cuidam da roupa e das suas coisas. Além dos seus mil e quinhentos francos de ordenado, o senhor rouba-me, nas compras que me faz para a minha toilette, mais cerca de mil e quinhentos francos por ano...

- Oh, Excelência!

- Não me queixo disso, Sr. Baptistin; é razoável. No entanto, desejo que as coisas fiquem por aí. O senhor não arranjaria em parte alguma um lugar como o que a sua boa fortuna lhe proporcionou. Nunca bato no meu pessoal, nunca praguejo, nunca me encolerizo, perdoo sempre um erro, mas nunca uma negligência ou um esquecimento. As minhas ordens são habitualmente curtas, mas claras e precisas. Prefiro repeti-las duas vezes, e até três, a vê-las mal interpretadas. Sou bastante rico para saber tudo o que quero saber, e sou muito curioso, previno-o. Se souber, portanto, que falou a meu respeito bem ou mal, comentou os meus actos ou vigiou a minha conduta, sairá da minha casa imediatamente. Nunca previno os meus criados mais do que uma vez. Está prevenido, pode-se retirar!

Baptistin inclinou-se e deu três ou quatro passos para se retirar. - A propósito - prosseguiu o conde -, esquecia-me de dizer que todos os anos deposito determinada importância em nome do meu pessoal. Aqueles que despeço perdem inevitavelmente esse dinheiro, que aproveita aos que ficam e que a ele terão direito depois da minha morte. Está cá há um ano, a sua fortuna começou, continue-a.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069