O Conde de Monte Cristo - Cap. 51: Píramo e Tisbe Pág. 499 / 1080

- Como pode dizer-me isso, minha amiga, a mim, que desde que a conheço lhe provo todos os dias que subordino os meus pensamentos e a minha vida à sua vida e aos seus pensamentos? Que a levou a confiar em mim? A minha dedicação, não é verdade? Quando me disse que um vago instinto lhe afirmava que corria um grande perigo, pus a minha dedicação às suas ordens sem lhe pedir outra recompensa além da felicidade de a servir. Desde então já lhe dei, por uma palavra, por um gesto, oportunidade de se arrepender de me ter distinguido no meio daqueles que se considerariam felizes por morrer por si? Disse-me, pobre criança, que estava noiva do Sr. de Epinay, que o seu pai decidira essa aliança, ou seja, que ela era inevitável, pois tudo o que o Sr. de Villefort deseja acontece infalivelmente. Pois bem, fiquei na sombra esperando tudo, não da minha vontade, não da sua, mas sim dos acontecimentos, da Providência, de Deus, e no entanto a Valentine ama-me, teve compaixão de mim e disse-mo. Obrigado por essa doce palavra, que só lhe peço me repita de tempos a tempos e que me fará esquecer tudo.

- E foi isso que o tornou audacioso, Maximilien, e é isso que me proporciona simultaneamente uma existência tão venturosa quanto infeliz, a ponto de perguntar a mim própria muitas vezes o que será melhor para mim, se a tristeza que me causava dantes o rigor da minha madrasta e a sua preferência cega pelo filho ou a felicidade cheia de perigos que experimento em vê-lo.

- Perigos?! - exclamou Maximilien. Como pode dizer uma palavra tão dura e tão injusta? Alguma vez viu um escravo mais submisso do que eu? Permitiu-me dirigir-lhe algumas vezes a palavra, Valentine, mas proibiu-me de a seguir e eu obedeci. Desde que descobri maneira de entrar aqui, de falar consigo através desta porta, de estar, enfim, tão perto de si sem a ver, alguma vez, diga-me, lhe pedi para tocar sequer na fímbria do seu vestido através das grades? Alguma vez dei um passo para transpor este muro, ridículo obstáculo para a minha juventude e para a minha força? Nunca me ouviu queixar do seu rigor, nunca exprimi um desejo em voz alta; tenho cumprido a minha palavra como um cavaleiro doutros tempos. Reconheça isto, ao menos, para que a não julgue injusta.

- É verdade - disse Valentine, passando entre duas tábuas a ponta de um dos seus dedos afuselados no qual Maximilien pousou os lábios. - É verdade, tem sido um amigo respeitoso. Mas tem procedido assim apenas por saber ser esse o seu interesse, meu caro Maximilien. Sabia muito bem que no dia em que o escravo se tornasse exigente tudo perderia.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069