O Conde de Monte Cristo - Cap. 52: Toxicologia Pág. 517 / 1080

- Meu Deus, não! Antes de mais nada admitamos isto: que o meu veneno não existe, pois empregam-se em medicina venenos mais violentos, que se tornam, devido à forma como são administrados, remédios salutares.

- De que se trata então? - De um engenhoso preparado do meu amigo, esse excelente abade Adelmonte, de que ele me ensinou a servir.

- Oh, deve ser um óptimo antiespasmódico! - exclamou a Sr.ª de Villefort.

- Soberano, minha senhora, como viu - respondeu o conde. Utilizo- o com frequência, embora com toda a prudência possível, evidentemente - acrescentou rindo.

- Acredito - replicou no mesmo tom a Sr.ª de Villefort. – Pelo que me diz respeito, tão nervosa e atreita a perder os sentidos como sou, bem precisaria de um Dr. Adelmonte para me inventar meios que me permitissem respirar livremente e tranquilizar-me acerca do receio que tenho de morrer um belo dia asfixiada. Entretanto, como o remédio é difícil de encontrar em França, e provavelmente o seu abade não está disposto a vir a Paris por minha causa, contento-me com os antiespasmódicos do Sr. Planche e com a hortelã-pimenta e as gotas de Hoffmann, esperando que desempenhem em mim um grande papel. Olhe, aqui tem as pastilhas que mando fazer propositadamente. São em dose dupla.

Monte-Cristo abriu a caixa de tartaruga que lhe estendia a jovem senhora e aspirou o aroma das pastilhas como um amador digno de apreciar aquele preparado.

- São excelentes - disse -, mas têm um contra: estão submetidas à necessidade da deglutição, função que muitas vezes a pessoa desmaiada não pode desempenhar. Prefiro o meu específico.

- Evidentemente que também eu o preferiria, sobretudo depois dos efeitos que lhe vi. Mas trata-se decerto de um segredo e não sou suficientemente indiscreta para lho pedir.

- Mas, minha senhora - redarguiu Monte-Cristo, levantando-se -, sou eu suficientemente galante para lho oferecer.

- Oh, senhor! - Mas não se esqueça de uma coisa: que em pequena dose é um remédio e em forte dose um veneno. Uma gota restitui a vida, como viu; cinco ou seis matariam infalivelmente, e de forma tanto mais terrível quanto é certo que, deitadas num copo de vinho, lhe não alterariam o gosto. Mas não digo mais nada, minha senhora, pois teria quase o ar de a aconselhar.

Acabavam de soar seis e meia e anunciaram uma amiga da Sr.ª de Villefort que vinha jantar com ela.

- Se tivesse a honra de o ver pela terceira ou quarta vez, Sr. Conde, em vez de o ver pela segunda - disse a Sr.ª de Villefort -; se não receasse abusar, insistiria que ficasse para jantar e não desistiria à primeira recusa.

- Mil agradecimentos, minha senhora - respondeu Monte-Cristo -, mas eu próprio tenho um compromisso ao qual não posso faltar.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069