O Conde de Monte Cristo - Cap. 64: O mendigo Pág. 616 / 1080

- Oh, não é pela glória de entrar numa boa carruagem! - declarou. - Não, é apenas porque estou cansado e também um bocadinho porque preciso de falar de negócios contigo.

- Vamos, suba - disse o rapaz.

Que pena não ser de dia, pois proporcionaria um espectáculo curioso ver aquele maltrapilho comodamente sentado nas almofadas de brocado ao lado do jovem e elegante condutor do tílburi.

Andrea conduziu o cavalo até à última casa da aldeia sem dizer uma única palavra ao companheiro, que, pelo seu lado, sorria e guardava silêncio, como se estivesse deslumbrado por passear em tão excelente meio de locomoção.

Uma vez fora de Auteuil, Andrea olhou à sua volta para se assegurar, sem dúvida, de que ninguém os podia ver nem ouvir, e então deteve o cavalo e cruzou os braços diante do homem do lenço vermelho.

- É capaz de me dizer porque veio perturbar a minha tranquilidade? - perguntou.

- E tu, meu rapaz, porque desconfias de mim?

- E em que é que eu desconfiei de si?

- Em quê? Ainda perguntas? Separámo-nos na Ponte do Var, depois de me dizeres que ias viajar pelo Piemonte e pela Toscana, e em vez disso vens para Paris...

- Em que é que isso o incomoda?

- Em nada. Pelo contrário, espero que me ajude...

- Ah, ah! - riu Andrea. - Quer dizer que está com ideias de me explorar não?

- Pronto, lá vêm as tiradas bombásticas!

- Pois olhe que faria mal, mestre Caderousse, já o previno...

- Meu Deus, não te zangues, pequeno! No entanto, deves saber o que é a desgraça... A desgraça torna-nos invejosos. Julgava-te a percorrer o Piemonte e a Toscana, obrigado a fazer de faccino ou cicerone, e lamentava-te do fundo do coração como lamentaria um filho. Bem sabes que sempre te considerei meu filho...

- Adiante, adiante!

- Tem paciência, com a breca!

- Tenho paciência, mas acabe de uma vez.

- E vejo-te de repente passar a Barreira dos Bons-Homens, com um groom, um tílburi e uma casaca novinha em folha! Demónio, descobriste alguma, mina ou compraste um cargo de corrector?

- De forma que, como confessou, tem inveja?...

- Não, estou contente, tão contente que quis apresentar-te os meus cumprimentos, pequeno! Mas como não estava vestido decentemente, tomei as minhas precauções para não te comprometer.

- Bonitas precauções! - redarguiu Andrea. - Dirigiu-se-me diante do meu criado!

- Que querias que fizesse, meu filho? Abordei-te quando te pude apanhar. Tens um cavalo muito vivo e um tílburi muito ligeiro. Além disso, és naturalmente escorregadiço como uma enguia. Se não te apanhasse esta noite, correria o risco de nunca mais te pôr a vista em cima.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069