O Conde de Monte Cristo - Cap. 64: O mendigo Pág. 618 / 1080

- Mas mal, bem sabes. Mas com...

- Com?

-...cento e cinquenta francos serei muito feliz.

- Aqui tens duzentos - disse Andrea.

E meteu na mão de Caderousse dez luíses de ouro.

- Óptimo... - murmurou Caderousse.

- Apresenta-te ao porteiro todos os primeiros dias do mês e terás outro tanto.

- Pronto, lá estás outra vez a humilhar-me!

- Como assim?

- Empurras-me para a criadagem. Isso não. Quero tratar contigo.

- Seja. Procura-me todos os primeiros dias do mês e assim que eu receber a minha mesada tu receberás a tua.

- Muito bem, vejo que me não tinha enganado, que és um excelente rapaz e que é uma bênção quando a sorte bafeja pessoas como tu. Vamos, conta-me a tua boa sorte.

- Que necessidade tens de saber isso? - perguntou Cavalcanti.

- Aí está outra vez a desconfiança!

- Não. Encontrei o meu pai...

- Um verdadeiro pai?

- Com a breca, enquanto pagar...

- Acreditarás e honrarás. É justo. Como se chama o teu pai?

- Major Cavalcanti.

- E ele está satisfeito contigo?

- Até agora parece que sim.

- E quem te fez encontrar esse pai?

- O conde de Monte-Cristo.

- Aquele de casa de quem vens?

- Sim.

- Bom, já que isso é assim, vê se me consegues meter em casa dele como avô, pois deve dar tacho...

- Está bem, falar-lhe-ei de ti. Mas entretanto que vais fazer?

- Eu?

- Sim, tu.

- És muito amável em te preocupar com isso – disse Caderousse.

- Parece-me que, uma vez que te interessas por mim, também tenho o direito de querer saber alguma coisa de ti – redarguiu Andrea.

- É justo... Vou alugar um quarto numa casa respeitável, vestir umas roupas decentes, barbear-me todos os dias e ler os jornais no café. à noite, irei a qualquer espectáculo com um chefe de claque. Enfim, parecerei um padeiro reformado... É o meu sonho.

- Óptimo! Se quiseres pôr esse projecto em execução e ter juízo, correrá tudo às mil maravilhas.

- Verá, Sr. Bossuet!... E tu, que vais ser? Par de França?

- Eh, eh! - riu Andrea. - Quem sabe?...

- O Sr. Major Cavalcanti talvez o seja ... mas infelizmente a hereditariedade foi abolida.

- Nada de política, Caderousse!... E agora que tens o que querias e chegámos, salta da minha carruagem e desaparece.

- Nem por sombras, caro amigo!

- Como nem por sombras?...

- Pensa um bocadinho, pequeno. Um lenço encarnado na cabeça, quase sem sapatos, nenhuns documentos e dez napoleões de ouro na algibeira, sem contar com o que já lá havia e que soma exactamente duzentos francos... Prendiam-me infalivelmente na Barreira!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069