O Conde de Monte Cristo - Cap. 72: A Sra. de Saint-Méran Pág. 675 / 1080

Porque nada aterroriza tanto os velhos do que quando a morte se afasta por instantes do seu lado para ir atingir outro velho. Depois, enquanto a Sr.ª de Saint-Méran, sempre ajoelhada, rezava fervorosamente, Villefort mandou chamar uma carruagem de praça e foi ele mesmo buscar a casa da Sr.ª de Morcerf a mulher e a filha. Estava tão pálido quando apareceu à porta do salão que Valentine correu para ele gritando:

- Oh, meu pai, aconteceu alguma desgraça?!...

- A tua avó acaba de chegar, Valentine - respondeu o Sr. de Villefort.

- E o avô? - perguntou a jovem, muito trémula.

O Sr. de Villefort não respondeu, limitou-se a oferecer o braço à filha.

Era tempo: Valentine teve uma vertigem e cambaleou; a Sr.ª de Villefort apressou-se a ampará-la e a ajudar o marido a levá-la para a carruagem, ao mesmo tempo que dizia:

- Que coisa estranha! Quem podia esperar semelhante desgraça? Oh, não há dúvida que é muito estranho! E toda aquela família desolada se retirou assim, lançando a sua tristeza, como um véu negro, sobre o resto da festa.

À chegada, Valentine encontrou Barrois à sua espera ao fundo da escada.

- O Sr. Noirtier deseja vê-la esta noite - disse-lhe ele baixinho.

- Diga-lhe que irei quando sair do quarto da minha avó - respondeu Valentine.

Na delicadeza da sua alma, a jovem compreendera que quem mais necessitava dela naquele momento era a Sr.ª de Saint-Méran

Valentine encontrou a avó na cama. Carícias mudas, dolorosas expansões do coração, suspiros entrecortados, lágrimas escaldantes, eis os únicos pormenores reproduzíveis daquele encontro a que assistiu, pelo braço do marido, a Sr.ª de Villefort, cheia de respeito, pelo menos aparente, para com a pobre viúva.

Passado um instante, inclinou-se ao ouvido do marido e disse-lhe:

- Com sua licença, acho melhor retirar-me, pois a minha presença parece afligir ainda mais a sua sogra.

A Sr.ª de Saint-Méran ouviu-a e disse ao ouvido de Valentine:

- Sim, sim, que se vá embora. Mas tu ficas, tu ficas.

A Sr.ª de Villefort saiu e Valentine ficou sozinha junto do leito da avó, porque o procurador régio, consternado com aquela morte imprevista, seguira a mulher.

Entretanto, Barrois subira pela primeira vez para junto do velho Noirtier, mas este, que ouvira todo o barulho que se fazia na casa, mandara, como dissemos o velho criado informar-se do que se passava.

No regresso, aqueles olhos tão vivos, e sobretudo tão inteligentes, interrogaram o mensageiro.

- Valha-nos Deus, senhor! - disse Barrois. - Aconteceu uma grande desgraça: a Sr.ª de Saint-Méran. está cá e o marido morreu.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069