O Conde de Monte Cristo - Cap. 79: A limonada Pág. 765 / 1080

Barrois girou sobre si mesmo, deu três passos atrás, tropeçou e veio cair aos pés de Noirtier, no joelho do qual apoiou a mão, gritando:

- Meu amo! Meu bom amo!

Neste momento, atraído pelos gritos, o Sr. de Villefort apareceu no limiar do quarto.

Morrel largou Valentine meio desfalecida, recuou para o canto do quarto e quase desapareceu atrás de um reposteiro.

Pálido, como se tivesse visto uma serpente erguer-se diante de si, não tirava os olhos do pobre agonizante.

Noirtier fervia de impaciência e terror. A sua alma corria em socorro do pobre velho, mais um amigo do que um criado. Via-se o combate terrível da vida e da morte transparecer-lhe na testa pela intumescência das veias e pela contracção de alguns músculos ainda vivos à roda dos olhos.

Barrois, com o rosto agitado, os olhos injectados de sangue e a cabeça inclinada para trás, jazia no chão batendo no parque com as mãos, enquanto, pelo contrário, as suas pernas rígidas pareciam que mais depressa se quebrariam do que dobrariam.

Uma leve espuma vinha-lhe dos lábios e arquejava dolorosamente.

Estupefacto, Villefort ficou um instante de olhos postos naquele quadro, que lhe atraíra a atenção logo que entrara no quarto.

Não vira Morrel.

Depois de um instante de contemplação muda, durante o qual se pôde ver o seu rosto empalidecer e os seus cabelos eriçarem-se-lhe na cabeça, gritou correndo para a porta:

- Doutor! Doutor! Venha! Venha!

- Senhora! Senhora! - gritava por seu turno Valentine, chamando a madrasta e indo de encontro às paredes da escada. Venha! Venha depressa e traga o seu frasco de sais!

- Que aconteceu? - perguntou a voz metálica e contida da Sr.ª de Villefort.

- Oh, venha, venha!

- Mas onde está o doutor? - gritava Villefort. - Onde se meteu ele?

A Sr.ª de Villefort desceu lentamente; ouviu-se estalar o soalho debaixo dos seus pés. Numa das mãos segurava o lenço com o qual limpava o rosto e na outra um frasco de sais ingleses.

O seu primeiro olhar quando chegou à porta foi para Noirtier, cujo rosto, exceptuando a emoção naturalíssima em semelhantes circunstâncias, denotava que a sua saúde não sofrera alteração. O seu segundo olhar foi para o moribundo.

Empalideceu e os seus olhos saltaram por assim dizer do criado para o amo.

- Mas, em nome do céu, senhora, onde está o doutor? Ele entrou nos seus aposentos. Trata-se de uma apoplexia, como vê, e com uma sangria salvá-lo-emos.

- Ele comeu há pouco? - perguntou a Sr.ª de Villefort, esquivando-se à pergunta do marido.

- Senhora - respondeu Valentine -, não tomou o pequeno-almoço, mas correu muito esta manhã para ir fazer um recado de que o avô o encarregou. Só no regresso tomou um copo de limonada.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069