O Conde de Monte Cristo - Cap. 84: Beauchamp Pág. 808 / 1080

- Que fazem então as pessoas que se não limitam a responder desse modo?

- Fazem o que eu fiz, Albert. Dizem: «O dinheiro, o tempo e a fadiga não são nada quando se trata da reputação e dos interesses de toda uma família.» São necessárias mais do que probabilidades, são necessárias certezas para aceitar um duelo de morte com um amigo. Se cruzo a espada ou primo o gatilho de uma pistola contra um homem a quem durante três anos apertei a mão, tenho de saber ao menos porque faço semelhante coisa, a fim de entrar em campo com o coração tranquilo e de bem com a minha consciência, como convém a um homem que tem de confiar ao seu braço a salvação da sua vida.

- Pois sim, pois sim - atalhou Morcerf com impaciência -, mas que quer isso dizer?

- Quer dizer que venho de Janina.

- De Janina? O senhor?!

- Sim, eu.

- Impossível.

- Meu caro Albert, aqui tem o meu passaporte. Veja os vistos: Genebra, Milão, Veneza, Trieste, Delvino, Janina. Acredita na polícia de uma república, de um reino e de um império?

Albert deitou os olhos ao passaporte e ergueu-os, atónito, para Beauchamp.

- Esteve então em Janina?... - murmurou.

- Albert, se você fosse um estranho, um desconhecido, um simples lorde como esse inglês que me veio pedir satisfações há três ou quatro meses, e que matei para me ver livre dele, decerto compreenderia que me não desse a semelhante trabalho. Mas achei que lhe devia essa prova de consideração. Gastei oito dias a ir e oito dias a voltar, mais quatro dias de quarentena e quarenta e oito horas de permanência. Isto dá precisamente as minhas três semanas. Cheguei esta noite e aqui estou.

- Meu Deus, meu Deus, quantos circunlóquios, Beauchamp, e como tarda a dizer-me o que espero de si!...

- É que na verdade, Albert...

- Dir-se-ia que hesita.

- Sim, hesito, tenho medo.

- Tem medo de confessar que o seu correspondente o enganou? Oh, deixe-se de amor-próprio, Beauchamp! Confesse, Beauchamp, a sua coragem não pode ser posta em dúvida.

- Oh, não se trata disso! - murmurou o jornalista. - Pelo contrário...

Albert empalideceu horrivelmente. Tentou falar, mas as palavras morreram-lhe nos lábios.

- Meu amigo - disse Beauchamp no tom mais afectuoso -, creia que me sentiria feliz em apresentar-lhe as minhas desculpas, e que lhas apresentaria de todo o coração; mas infelizmente...

- Mas quê?

- A notícia tinha razão, meu amigo.

- Como, esse oficial francês...

- Sim.

- Esse Fernand?

- Sim.

- Esse traidor que entregou os castelos do homem ao serviço de quem estava...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069