O Conde de Monte Cristo - Cap. 84: Beauchamp Pág. 810 / 1080

- Tome - disse Beauchamp, apresentando os documentos a Albert.

Albert agarrou-os com mão convulsa, apertou-os, amarrotou-os, chegou a pensar em rasgá-los. Mas, receando que o mais pequeno fragmento, levado pelo vento, pudesse um dia vir a bater-lhe na fronte, aproximou-se da vela sempre acesa para os charutos e queimou tudo até ao último resto.

- Querido amigo, excelente amigo! - murmurava Albert enquanto queimava os papéis.

- Que tudo isto seja esquecido como um mau sonho - disse Beauchamp -, desapareça como essas últimas chamas que correm pelo papel enegrecido, que tudo isto se desvaneça como esse último fumo que se escapa dessas cinzas mudas.

- Sim, sim - concordou Albert -, e que só reste a eterna amizade que voto ao meu salvador, amizade que os meus filhos transmitirão aos seus, amizade que me recordará sempre que o sangue das minhas veias, a vida do meu corpo e a honra do meu nome lhos devo integralmente, porque se semelhante coisa fosse conhecida... Oh, Beauchamp, declaro-lhe que daria um tiro na cabeça! Mas não, pobre mãe, porque isso seria o mesmo que matá-la... Exilar-me-ia.

- Querido Albert! - exclamou Beauchamp.

Mas o jovem não tardou a sair desta alegria inopinada e por assim dizer fictícia, e recaiu mais profundamente na sua tristeza.

- Então, que mais temos ainda, meu amigo? - perguntou Beauchamp.

- Temos - respondeu Albert - que sinto algo partido no coração. Ouça, Beauchamp, ninguém se separa assim num segundo do respeito, da confiança e do orgulho que inspira a um filho o nome sem mácula do pai. Oh, Beauchamp! Como vou agora encarar o meu? Afastarei a testa quando ele aproximar os lábios e a mão quando me estender a sua?... Veja, Beauchamp, sou o mais infeliz dos homens. Ah, minha mãe, minha pobre mãe! -exclamou Albert, olhando com os olhos rasos de lágrimas o retrato da mãe. - Se soubesse isto, como sofreria!

- Vamos, coragem, amigo! - procurou animá-lo Beauchamp, pegando-lhe nas mãos.

- Mas donde veio a primeira notícia inserta no seu jornal? - perguntou Albert. - Há por detrás de tudo isto um ódio desconhecido, um inimigo invisível.

- Nesse caso, mais uma razão para ter coragem, Albert. Nada de vestígios de emoção no seu rosto. Traga essa dor em si como a nuvem traz com ela a ruína e a morte, segredo fatal que só se desvenda no momento em que rebenta a tempestade. Vá, amigo, reserve as suas forças para o momento em que o temporal desabar...

- Julga então que ainda não chegámos ao fim? - perguntou Albert, espantado.

- Não julgo nada, meu amigo. Mas, enfim, tudo é possível. A propósito...

- Que é? - perguntou Albert, vendo que Beauchamp hesitava.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069